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Mário Russo |
As pressões ilegítimas que se exerceram durante a semana
pela UE e os seus sinistros líderes, incluindo o inenarrável Passos Coelho
moralista e justicialista, com o fantasma do medo e pânico do fim do mundo,
faziam vaticinar a derrota do Syriza e o claudicar do povo diante da máquina
trituradora aliada à finança internacional. Seria assim, seguramente em
Portugal. Porém, não na Grécia, cujo povo, posto diante da espada e da parede,
preferiu a espada. Uma vez mais a Grécia, a quem o Mundo ocidental que glosamos
de civilizado, tudo deve, deu uma lição, como só os sábios podem dar.
O povo Grego mostrou porque não é igual ao português, e
nisso o PM de Portugal tinha razão quando dizia que Portugal (e os portugueses)
não eram a Grécia (e os gregos). Arrojado e destemido, preferiu a espada que
esvair-se em sangue pela eternidade. O mundo não acabou e as coisas não vão ser
fáceis para os gregos, é certo, como não vão ser para os portugueses.
Provavelmente os gregos, com a sua luta, podem ter evitado que Portugal seja a
próxima vítima dos vampiros. Portugal
depende mais da Grécia do que julga a maioria, incluindo PPC.
A UE não gosta do Syriza, mas foi a sua intransigência,
insensibilidade, incultura, ganância e cinismo que o criaram. Se não queriam que um partido de contestação
chegasse ao poder, deveriam ter evitado e estudado mais a história e as razões
do descalabro das contas na Grécia e os verdadeiros culpados. Onde estavam as
instituições punidoras que agora apareceram a condenar à forca o povo grego e
português, quando os bancos jorravam dinheiro aos amigos da Nova Democracia e ao
Pasok? Para comprar submarinos, BMW, jatos particulares, iates milionários, à
Alemanha.
Agora queriam que um partido de contestação arrumasse a casa
por decreto em 3 meses?
Mas honra se lhes faça, porque rapidamente o partido de
contestação arregaçou as mangas e fez as contas. A dívida é impagável como
pretendem os algozes. De facto, se não houver um perdão, e não apenas à Grécia,
mas também a Portugal e à maioria dos países da Europa, a economia que é o
motor do desenvolvimento, não arrancará. A Alemanha esqueceu-se rapidamente da
solidariedade que teve, pese embora as culpas próprias na destruição da Europa
com a loucura de Hitler. Agora anda de chicote.
Tsipras surpreendeu tudo e todos, e o seu Ministro Yanis
Varoufakis revelou-se um brilhante interprete prático da teoria dos jogos, mas
um patriota. Constatou que saindo, abria caminho a que o Syriza consiga o que
quer, ficando os ressabiados justicialistas contentes com a sua cabeça. Até
porque um ministro desassombrado, inteligente e culto, diante de uma plateia de
incultos e boçais, causava desconforto.
A Grécia deu uma lição à Europa e, sobretudo a Portugal, ou
ao Portugal interpretado por Passos Coelho e Portas, mentirosos compulsivos. É
facto que a Grécia tem pela frente os 12 trabalhos de Hércules, mas vai fazer o
seu caminho e não o que os outros lhes quiseram impor. Tsipras pode perder, mas
já ganhou o respeito do seu povo, pois lutou como um soldado por eles, ao
contrário do nosso Governo que claudicou e nem uma palha mexeu para contrariar
a fúria dos burocratas de Bruxelas e da esgazeada Lagarde que vomita ódio
contra a plebe.
Honestamente alguém pode afirmar que o sim é que valia à
Grécia? O sim já se sabia o resultado, seria adotada a receita de maior
emagrecimento e depauperamento perpétuo do povo do país. Miséria sem fim à
vista e garantida. Deixo o desafio a quem me queira dar um exemplo de sucesso da
estratégia da austeridade imposta pelo FMI (Federação de Malfeitores Incorrigíveis).
A solução está no crescimento económico, sem o qual não há empréstimo que se
possa pagar. A Europa, se exibir um pingo de juízo, fará uma reflexão global e
extrairá ilações. Os próximos dias nos dirão que caminho trilhará e se
aproveita a oportunidade que o destino lhe concedeu de corrigir o clamoroso
erro que é o de “expulsar” a Grécia do Euro (pela asfixia) e abrir a caixa de
Pandora.