30/06/2015

Grécia volta a ter a importância para a civilização europeia



Mário Russo
A Europa está no fio da navalha à espera da decisão que virá da Grécia com o resultado do referendo que Alexis Tsipras resolveu presentear os políticos ortodoxos que governam (ou desgovernam) a Europa.  Podem dizer que os gregos não querem trabalhar, que não pagam impostos, etc. Essa é parte da verdade, mas não a verdade. A UE injetou dinheiro nos países que aderiram à União sem as necessárias cautelas. Nunca fez a monitorização que deveria ser feita. Direcionou Biliões para facilitar a indústria de países como a Alemanha, por exemplo (venda de submarinos, aviões, armamento, etc).
Quando os resultados do desastre e do regabofe vieram à luz do dia, impôs austeridade desumana. Exigiu aos países em assistência, porque estavam falidos, incluindo Portugal, que endireitassem o descalabro em pouco tempo, numa atitude radical de punição, típica das ditaduras.
Mas a Grécia, humilhada nos últimos anos, tal como Portugal, não tem um Governo como o de PPC. Tem alguém que se bate pelo seu povo. Podem dizer que é uma aventura. Mas que alternativa deu a tal de Europa? Mais sangue, suor e lágrimas? Se é para passar fome, Tsipras preferiu perguntar ao povo Grego o que quer. Que prazer tem um governante em sangrar o seu povo? Só sádicos o fazem.
Mas o que está em causa não é só a Grécia, mas a Europa. De facto, “Bruxelas” acaba de abrir a caixa de Pandora, por pura ignorância assente numa ideologia intransigente e radical de direita, convencidos que vergavam uns jovens que tiveram a “desfaçatez” de se juntarem à elite que governa a Europa.
A chantagem virou-se contra esses incultos justicialistas e algozes, incluindo o nosso Governo, da mesma linha, que arrogantemente se diz blindado com o que acontecerá à Grécia.
Portugal e a Espanha, igualmente governada por um radial de direita, deveriam ter unido esforços aos da Grécia para mostrar que não é a austeridade que poderá vencer a anemia em que a economia europeia se encontra. A receita não funcionou em lugar nenhum e nem vai funcionar. Pode mascarar, mas não enganar. Depois de nos porem a comer lama, começar a comer relva é um avanço danado.
A Grécia precisa de tempo e apoio para resolver o seu grave desequilíbrio financeiro e desorganização. Precisa de tempo para mudar a mentalidade e práticas anquilosadas. Exigir que eles aceitem condições que não podem cumprir é uma canalhice, que só um canalha mentiroso aceitaria. Tsipras pode ser um romântico e em muitas coisas é um naïf, mas é genuíno e o único que age com seriedade e realismo, como diz Paul Krugman. O tempo vai dar-lhe razão, quando estivermos esfarrapados (mais do que estamos).
Até porque, todos os dados sugerem que as dívidas soberanas destes países não são pagáveis. Sem um perdão substancial dessas dívidas (já várias vezes pagas), a Europa vai continuar nesta agonia. Não querem ver a realidade e estão a empurrar o problema com a barriga para a frente.
À hora que escrevo estas linhas estou longe de saber o que se vai passar no referendo e nos meandros da UE em negociações de última hora, pela pressão que os EUA, mais esclarecidos e avisados, tem vindo a fazer. No entanto, não vislumbro nada de bom. Só quero estar errado e que o Sr. Passos Coelho e a sua ajudante das Finanças expliquem, se a Grécia sair da UE, porque é que o país não se consegue financiar a preços baixos, que diz ser seu mérito, e o tal oásis de cofres cheios, que tem vindo a propalar, está a resvalar pela ladeira abaixo.