A Grécia foi o colosso a quem o ocidente deve a civilização
que conhecemos e os valores que partilhamos. O conhecimento dos sábios dominava
todos os campos da vida grega e espalhou-se até hoje. Sócrates, Platão e
Aristóteles foram escolas cujo pensamento perdura. A democracia nasceu na
Grécia. A ética, a deontologia e a moral eram valores profundos na Grécia
antiga. O império grego só foi possível porque a Grécia possuía a força da
organização e a excelência das suas gentes. Pergunta-se, por isso, como é que
chegou ao estado em que está, devido à corrupção, roubo, fraudes, sonegações
aos impostos como valor cultivado pelos oligarcas, etc. etc.
Bem, é que de 1453 a 1821 a Grécia foi colonizada por um
povo cujos valores eram antípodas do dos Gregos, que foi a colonização otomana
turca. Em cerca de 400 anos desbarataram o que em milénios foi construído. Os
valores foram ao charco. Fazer uma trafulhice é um valor moral elevado. Enganar
o parceiro é fixe.
Entre outros, é esse desconhecimento da história que os
incultos senhores feudais que nos governam não sabem, e querem impor ao novo
governo helénico que endireite em pouco tempo o que foi desbaratado e destruído
em 4 séculos.
A Tróika, à cabeça o FMI (Frente de Malfeitores
Internacionais) pretendem sadicamente cortar salários, pensões e prestações
sociais, atingindo o coração do povo Grego e a sua baixa estima, perpetuando a
pobreza. O dinheiro que tem sido canalizado para a Grécia vai direitinho para os
cofres dos bancos alemães e franceses. Alemães que tiveram após a 2ª Guerra, um
perdão de 50% da sua dívida e o restante pago com base na indexação dos
resultados das exportações, coisa proposta por Ianis Varoufaquis e negada pelos
ministros das finanças comandados pelo inculto e insensível ministro holandês
de direita, para quem a punição é a melhor medida.
A imprensa tem deturpado a seu bel-prazer, ou por encomenda,
as propostas realistas que o Governo de Atenas tem posto na mesa. Pedem tempo
para as reformas poderem ser implementadas e ajuda na sua formulação (combate á
corrupção, evasão fiscal, etc). Reiteradamente Paul Krugman vem apoiando uma
flexibilização realista, tal como Stiglitz, ambos Prémios Nobel da economia.
Mas é um economista de araque, o nosso PM, Passos Coelho, que surpreende ao
afirmar que aconteça o que acontecer à Grécia, nada vai atingir Portugal,
devido ao sólido trabalho que ele fez na consolidação e no abarrotar do cofre.
Se até a Chefe da Reserva Federal dos EUA está preocupada
com as consequências duma eventual crise com a saída da Grécia da zona Euro, o
comportamento de Passos Coelho e da sua deslavada ministra das finanças, só
pode ser entendido como inconsciência ou incompetência, misturada com
fanfarronice.
Portugal está a financiar-se a preços baixos graças a Mário
Draghi e PC nem sabe disso. É confrangedor ver um roto dar uma lição de moral a
um esfarrapado.
Se Tsipras aceitar a política de saque da troika, é o
claudicar da única estratégia que poderia dar certo, e trilhar pelo caminho do
desastre. É claro que o Governo Grego já disse que tem 12 trabalhos de Hércules
na frente interna, para combater as mordomias de marajás, a fuga aos impostos,
às fraudes, a necessidade de modernização na administração pública, etc. Mas aceitando
de cócoras as imposições dos verdugos credores, o país não vai crescer e não
poderá cumprir com os compromissos que lhes são impostos.
Este claudicar é apenas uma forma de empurrar com a barriga
as verdadeiras soluções de que o país necessita. Mais austeridade será o fim, e
o pior é que esta Europa madrasta liderada pela insensível Merkel e um sinistro
e sádico Ministro das finanças, ao humilhar o povo Grego, estarão a abrir a
caixa de Pandora. É perigoso para a segurança Europeia uma Grécia fora do seu
seio, à mercê de terroristas como Putin.
Passos Coelho é demasiado básico para perceber este
emaranhado geoestratégico, porque mal percebe o meio em que vive, não passando
de Massamá. Só que é o PM de um país de calças na mão, mas que canta a vitória
de Pirro.
Mário Russo |
No entanto, os líderes europeus travam um braço de ferro
decisivo na próxima semana, num bailado de ópera bufa, acabando por ajustar os
interesses dos Gregos aos dos malfeitores da alta finança, de modo a que a
Grécia permaneça na UE, Algum bom senso da parte do parlamento Europeu fará
caminho. Passos Coelho e a senhora que está no ministério das Finanças deviam
estudar um pouco mais, mas a falta de berço paga-se caro e não há nada a fazer.
A culpa é de quem votou e até exibe memória curta. A Grécia merece uma chance,
porque a Europa não se pode dar ao luxo de esbanjar a sorte.