A Europa está a ver-se grega com a Grécia e
com a vida difícil. Na Idade Média era frequente dizer-se:“Graecum est,
non legitur” (É grego, não se entende). O que sei é que a Grécia está a
atrapalhar a Europa - não só os países do Norte (ricos) como os do Sul (periféricos
e pobres)
A Grécia rejeita a
autoridade da troika e mais resgastes. Em Portugal foi pena não se bater o pé a
uma troika que mais parecia um cobrador-de-fraque que deixou o país com uma pobreza
inqualificável em que os portugueses vivem em agonia permanente e no limite. A
maior parte dos portugueses estão especializados em como "chegar até ao
fim do mês" com muita imaginação e perseverança.
Sei que a Grécia em 2010
pediu um empréstimo de 110.000 milhões de euros, o défice grego era de 3,7% mas
na prática de 12,7%. No Verão de 2011, novo resgaste de 130.000 milhões de
euros para salvar a Grécia da bancarrota. Actualmente a dívida grega anda à
volta de 317.000 milhões de euros que equivale a 175% do PIB do país, sendo a
taxa mais elevada da zona euro. A economia grega perdeu 25% do seu PIB.
Os gregos votaram e
querem o que está a fazer o governo da Grécia por intermédio de Yanis Varufakis,
ministro das Finanças e o Primeiro-ministro Alexis Tsipras: rejeitar o actual
programa de resgaste e o pagamento da dívida.
Não querem discutir com
a troika , afirmando que não passa de uma delegação tripartida anti-europeia e
que não tem razão de ser e o mais importante alegam, e bem, que em 1953 numa
conferência em Londres perdoou à Alemanha metade do seu passivo.
Aquando da estadia da troika
em Portugal de má memória sempre disse que o pagamento da nossa dívida é
inviável e não é possível pagar-se uma dívida tão grande.
O que é interessante com
as eleições gregas em que venceu o Syriza, em vez de Portugal ficar contente,
se a Grécia beneficiar de uma ampliação de prazos e de um perdão da sua dívida,
está assustado.
Mas não é só Portugal,
Espanha alinha pelo mesmo diapasão, está em pânico. Portugal emprestou 1.100
milhões de euros, Espanha emprestou 26.000 milhões de euros mas isso é do somenos.
Os governos de Portugal e de Espanha receiam e estão assustados pelo êxito do Syriza,
pelo contágio em próximas eleições. Em Espanha o Podemos vai de vento em popa,
em Portugal vamos ver o que acontece.
Neste jogo de fumaça e
espelhos, a Grécia quer apoiar-se noutros países mas o que é caricato é que
países como Portugal, Espanha e Irlanda, resgatados não lhe dão apoio.
Quando alguém já não tem
nada a perder tudo pode acontecer e quando alguém deve muito dinheiro quem está
tramado é quem emprestou e não quem deve.
O que se está a passar
na Grécia vai ter efeito nas próximas eleições legislativas em Portugal.
O problema grego é o
mesmo que Portugal trataram o Estado que é público e zela pelo bem comum, como
se fosse uma empresa privada e gerida pelo capricho dos nossos governantes que
fizeram o que lhes deu na real gana.
Reconheço que sinto uma
certa simpatia por ver o governo grego bater o pé aos poderosos da Europa e mostrar-lhes
que as coisas não são como eles querem mas como têm que ser.
O Syriza é a última
cartada do desespero dos gregos.
JJ
*texto publicado no PT Jornal