14/01/2015

Sócrates pressiona Costa e PS



Dos “contornos políticos” do processo à “perseguição política” foi um passo - José Sócrates tem vindo a subir o tom nas críticas à Justiça. Em contrapartida, António Costa tenta afastar o PS a todo o custo do olho do furacão e limitar a questão a um “caso de Justiça”. E apesar de estar a conseguir estancar a contaminação deste 'activo tóxico', a prisão de Sócrates não deixa de ser um “embaraço” para o PS. Que se pode prolongar, incomodamente, até às legislativas e presidenciais do final do ano.
Sócrates tem vindo a endurecer as acusações
Na primeira carta enviada à TSF e Público logo após a prisão, a 26 de Novembro, Sócrates dizia não ter “dúvidas que este caso tem também contornos políticos”, mas deixava ainda alguma margem de separação entre os dois campos: “Este é um caso da Justiça e é com a Justiça democrática que será resolvido”. No dia seguinte nova carta, agora ao Diário de Notícias, onde tecia críticas aos magistrados (“Quem nos guarda dos guardas?”) e à “cobardia de políticos”. 
À medida que se aproxima uma decisão da Relação sobre a permanência em prisão preventiva, Sócrates tem vindo a endurecer as acusações. Agora, em entrevista à TVI, critica a tolerância face a “prisões sem provas ou sequer fortes indícios de crimes que ao menos se perceba quais são!”. “Lamento dizê-lo, mas daqui à suspeita de perseguição política não é um passo de gigante, é um pequeno passo”, salientou. 
Se, no início da sua prisão, o ex-primeiro-ministro falava num caso com contornos políticos, agora sobe mais um degrau: “Este processo, pela sua natureza, tem contornos políticos. E digo mais: este processo é, na sua essência, político”.
As visitas que vai recebendo em Évora também têm vindo a questionar cada vez mais a Justiça e a pedir provas que, segundo Sócrates, ainda não lhe foram apresentadas. “Só se deve prender quando há provas”, declarou o ex-ministro Mário Lino, um dos mais recentes visitantes. 

O distanciamento de Costa

Ao mesmo tempo, António Costa insiste em separar os sentimentos da política e em respeitar a Justiça.  “Costa lidou bem com a situação e minimizou-a. Mas minimizar não é excluir. É inevitavelmente um embaraço e um problema para o PS. Esperemos que as pessoas não confundam o plano de um cidadão com o plano do PS partido”, admite ao SOL fonte da direcção.  
Logo após a detenção do ex-primeiro-ministro, Costa - que seria consagrado líder do PS nesse fim-de-semana - enviou um sms a todos os militantes para separar os “sentimentos de solidariedade e amizade pessoais” da “acção política do PS”. E é isto que tem repetido, em diferentes versões, sempre que se pronuncia sobre o caso Sócrates. 
No Congresso, Sócrates foi um nome proibido. “Todos temos sabido separar os sentimentos da política, mostrar a fibra de que se faz um partido como o PS, uma fibra dos que, contra ventos e marés, acreditam e não resvalam na confiança num Estado de Direito e nos seus ideais”, congratulou-se Costa. 
O líder do PS deixou para o último dia do ano a sua ida a Évora. À saída da prisão, ressalvou mais uma vez que “o importante é que deixemos a Justiça funcionar em todos o seus valores”. Questionado sobre se acredita na inocência de José Sócrates, Costa preferiu sublinhar que o ex-primeiro-ministro é “um lutador por aquilo que acredita ser a sua verdade”.
noticia do Sol