Miguel Mota |
Passemos em revista algumas das
dificuldades. Concordo que são reais e é pena que existam. Mas temos de viver
com elas e, em vez de cruzar os braços e lamentarmo-nos, procuremos corrigi-las
ou tirar partido delas.
Muitos dos solos de Portugal são
ácidos e inconvenientes para variadas culturas. É verdade. Mas a acidez do solo
corrige-se com a calagem, a aplicação de algum material alcalino, que até pode
ser calcário moído.
Muitos solos sofrem erosão. É algo de que se
queixam desde a Campanha do Trigo, sem nada fazerem para a combater. E há
variados processos, sem ser preciso deixar a terra a mato. Que me recorde,
apenas vi fazer bom combate à erosão, na década de 1950, nas herdades do Eng.º
agrónomo Sardinha de Oliveira.
Muitos dos solos portugueses têm
escassa matéria orgânica. Isso foi consequência de rotações paupérrimas, esgotantes,
durante muitos anos, sem que os agricultores se apercebessem disso. Depois de
um pousio, de um ou mais anos, apenas algumas vezes revestido, cultivava-se
trigo, que normalmente só levava fertilização mineral. Algumas vezes ainda se
fazia, depois, um ano de aveia, para aproveitar os restos.
O Alentejo ainda hoje sofre desse
mal. A solução é a utilização de
rotações com maior predominância de leguminosas. Ao fim de alguns anos, o nível
de fertilidade melhora. Temos alguns bons exemplos desse facto e nunca me
esqueço do trabalho de um americano, apresentado em França, no III Congresso
Internacional de Lupinus, em 1984. Lupinus é o género botânico a que
pertencem os tremoços, da família das
Leguminosas. O agrónomo americano que apresentou um estudo de rotações
que incluíam o Lupinus angustifolius,
o tremoço de folha estreita, espontâneo em Portugal, declarou: “esta cultura
seria económica, mesmo deitando fora a colheita”. A razão era por ter deixado a
terra mais fértil, o que se refletia na produção da cultura seguinte.
Outro problema é a drenagem. Ainda
vemos, nos invernos muito chuvosos, vastas áreas alagadas, o que, especialmente
para os cereais, é responsável por uma asfixia das raízes, que não se
desenvolvem em profundidade. No Alentejo, quase sem primavera – passa-se
rapidamente de um tempo frio e chuvoso para um quente e seco – este problema é
grave e explica, como bem demonstrou o Eng.º Sardinha de Oliveira, porque é que
a produção de trigo era melhor nos anos de inverno pouco chuvoso. Se a terra
for drenada, por qualquer dos processos existentes, esse mal deixa de existir.
Com o regadio, há muito maior
controle sobre as culturas e o recente alargamento da área regada, com o
Alqueva, permitiu aumentar significativamente as nossas produções, especialmente
de algumas culturas.
Se tivéssemos a Holanda e a
Holanda é que fosse dona deste bocadinho da Europa, não me admirava que
tivéssemos um pântano e invejássemos este país à beira mar plantado, com o seu
bom clima, que lhe permite obter tão saborosos frutos.