Daqui a pouco será o dia 4 de dezembro, uma
data igual a tantas outras não fosse uma data marcante há 34 anos atrás.
Encontrava-me eu e amigos, na altura simpatizantes e militantes do PPD, no
Coliseu do Porto à espera de Francisco Sá Carneiro para um último comício de
apoio à candidatura do General Soares Carneiro à Presidência da República. Um
ambiente de festa ,de entusiasmo e alegria (num tempo em que a política
albergava personalidades com outro gabarito como Sá Carneiro, Henrique de
Barros, Álvaro Cunhal, Octávio Pato, Salgado Zenha, Lucas Pires, Amaro da
Costa,Vasco da Gama Fernandes, Mário Soares - o antigo, não este -,etc,etc...),
Lá dentro respirava-se uma confiança tremenda, uma vontade de estar com o líder
do Partido, exprimir-lhe a nossa redobrada confiança por um tempo ainda melhor.
De repente a notícia brutal, chocante, arrepiante mesmo! O avião cessna que
transportava o Primeiro Ministro e o Ministro da Defesa tinha caído!Não haveria
sobreviventes! Um silêncio sepulcral que rapidamente se transformou num
histerismo coletivo, num misto de berros alucinantes, gritos de desespero,
choros descontrolados. E a notícia correu célere, mesmo sem se saberem
pormenores: Mataram Sá Carneiro! Mataram Sá Carneiro! Houve um atentado a Sá
Carneiro! Depois das certezas de que já não haveria comício e que o Primeiro
Ministro tinha mesmo morrido, instalou-se o pânico à saída, o histerismo e o
descontrole apoderaram-se das pessoas, que mais pareciam zombies, ávidas de
notícias e pormenores, não acreditando ainda no que tinha acontecido. A rua que
desce do Coliseu até à Praça D. João I estava apinhada de gente sem rumo,
completamente desorientada e num descontrole que metia dó. Estávamos a 4 de
dezembro de 1980. Um dia que ficará para sempre nas memórias coletivas da
Social Democracia e dos admiradores de Sá Carneiro. Portugal nunca mais seria o
mesmo. Com Sá Carneiro, quem sabe, o rumo poderia ter sido outro. Fica a dúvida
e a saudade. Saudade de um tempo e de um homem que aprendi a respeitar e a
admirar, pelas suas ideias e convicções. Foi acidente? Foi atentado? Para o
caso pouco interessa, apenas fica para memória futura a homenagem a um homem,
combatente da liberdade e da democracia e que sempre lutou por um Portugal
melhor e mais solidário.
Obrigado FRANCISCO SÁ CARNEIRO.