Miguel Mota |
O próximo Presidente do Conselho
Europeu será Donald Tusk, o actual primeiro-ministro da Polónia. Do artigo “O
homem da esperança”, no “Público” de 1 de Setembro de 2014, da autoria do
Embaixador da Polónia em Lisboa, Bronislaw Misztal, transcrevo:
“Portanto é com muita esperança,
além de óbvio orgulho e humildade necessária que nós, os polacos, damos as boas
vindas à nomeação do presidente da Europa. Donald Tusk, o primeiro-ministro da
Polónia, é a escolha da esperança, confiança e valores comuns.”
Também não tenho dúvidas de que os
dinamarqueses sentiram o mesmo “óbvio orgulho” quando o primeiro-ministro
da Dinamarca, Anders Rassmunsen, deixou
esse cargo para assumir o de Secretário-Geral da NATO, outro importante cargo
internacional.
E em Portugal? Quando o
primeiro-ministro Durão Barroso deixou esse cargo para ir exercer o de
Presidente da Comissão Europeia, o chefe do executivo da União Europeia, outro
cargo de muito grande importância internacional, o que é que se ouviu? Que ele
“fugiu”, que não devia abandonar o cargo, que devia ficar para cumprir o seu
mandato, etc. O “óbvio orgulho”? Os grupos que clamavam contra essa fuga não
sabem o que isso é. E nós sabemos bem quem são, pois se mostram em bem
orquestradas manifs.
E os que sabem, pois acredito que ainda
existem? Com raras excepções, são a tal “maioria silenciosa”, que se deixa
espezinhar e consente em chamar democracia a esta feroz ditadura
partidocrática, responsável por delapidar Portugal, que continua a vender o
país, principalmente a estrangeiros, continua a tirar aos pobres e remediados
para dar aos ricos e clama que o país está melhor que em 1974, como se
Portugal, no dia 25 de Abril desse ano, tivesse parado no tempo.
O primeiro-ministro português que
“fugiu” foi António Guterres, a meio do seu segundo mandato. Do seu discurso em
que anunciou a demissão, transcrevo:
“Se olhasse para estas eleições e passasse por
elas como porventura seria integralmente o meu direito, continuando a exercer
as funções de primeiro-ministro, o país cairia inevitavelmente num pântano
político e minaria as relações de confiança entre governantes e governados, que
são indispensáveis para que Portugal possa vencer o desafio que tem pela
frente.
Nessas condições, entendo que é
meu dever, perante Portugal e perante os portugueses, evitar esse pântano político.
E por isso mesmo, pedirei ao Senhor Presidente da República que me receba, para
lhe apresentar o meu pedido de demissão das funções de primeiro-ministro,
querendo com isto contribuir para a criação duma situação que permita o pleno
restabelecimento da confiança entre governantes e governados.”
Se o Eng.º Guterres foi eleito
para um segundo mandato, foi graças às realizações já em meio, que recebeu do
governo anterior e que lhe permitiram fazer um brilharete, com os exemplos
típicos da Ponte Vasco da Gama e a Expo 98.
Quanto a esta última realização,
não me canso de lembrar o que considero uma falha clamorosa, bem reveladora da
ausência do “óbvio orgulho” nacional e que bastante prejudica a projecção de
Portugal no mundo. O tema da Expo era “Os Oceanos” e a organização ignorou
completamente o que considero o feito maior dos portugueses no século XX, a I
Travessia Aérea do Atlântico Sul, por Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Essa
falha clamorosa fez o país perder uma oportunidade magnífica, como talvez não volte
a haver, de mostrar ao mundo – visitaram a Expo muitos milhares de estrangeiros
– esse feito notável dos portugueses.
Na minha modesta opinião, a
Travessia devia ter um pavilhão a ela dedicado, com painéis a descrever o que
foi essa epopeia, filmes – alguns da época – sobre esse feito, o hidroavião
Santa Cruz ou uma réplica construída para o efeito, edição de livros
antigos e de outros escritos para a
ocasião, e uma série de palestras por pessoas qualificadas. Como nada se fez, o
mundo continua a conhecer bem o nome de Charles Lindbergh – cuja Travessia,
cinco anos depois, é um feito importante, mas muito menos importante que o dos
nossos navegadores – e quase ninguém sabe quem eram Arthur de Sacadura Cabral e
Carlos Viegas Gago Coutinho.
Voltando ao governo Guterres,
convém notar que, no governo que o antecedeu, a economia portuguesa tinha
crescido sempre acima da média europeia. A partir de 1995, começou a crescer
menos do que a média europeia, sempre cada vez menos. Quando o PS voltou ao
governo, em 2005, entrámos em recessão. Tudo consequência de políticas
erradíssimas. E por muito que o governo actual apregoe melhorias – ao mesmo
tempo que continua a cortar ordenados e pensões e a aumentar o número de
milionários – as perspectivas de futuro, para a grande maioria dos portugueses,
são muito negras.