18/11/2014

AMIGO - PALAVRA SÉRIA





Tereza Halliday
Muito antes das redes sociais, os brasileiros já usavam a palavra “amigo” de maneira mais ampla do que alemães, ingleses e americanos empregam seus respectivos termos “freund” e “ friend”. Para eles, é diferente de conhecido, colega, seguidor, aliado, parceiro de alguma atividade  - a não ser que o parceiro se qualifique na categoria Amizade – aquela relação pessoal, afetiva, cheia de confiança e confiabilidade, que se constrói com o tempo,  gentilezas, lealdade, ternura.

            Não critico o novo uso do velho termo para designar contatos de Facebook, onde alguém pode gabar-se de ter centenas de “amigos”. Em qualquer língua, uma mesma palavra pode ter várias acepções.  Um sociólogo observou que, para o brasileiro, amigo é qualquer pessoa que não lhe arreganhe os dentes.  Por esta ótica, amigo é quem quer  que não lhe seja hostil. Por outro prisma, há amigos de Facebook,  amigos sociais, amigos afetivos e amigos profundos.  Com os sociais você vai a eventos, enturma para alguma coisa de interesse comum, mas não desabafa nem oferece o ombro, como no caso dos afetivos – categoria mais densa, mais próxima. Amigos podem mudar de status, conforme o curso da vida.  Amigo profundo é o raro “amigo-irmão”, confidente, diante de quem  não temos medo nem vergonha.  Sabe ser presença, escutar, falar, calar.  Amigos profundos nunca são muitos, são pouquíssimos.

            Não está mais na moda, mas ainda é boa leitura “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry. Segundo ele, amigos se cativam – “cativar quer dizer criar laços”. Faz-se aos poucos e a gente se torna responsável por aquele a quem cativa. Senti o doce peso dessa responsabilidade quando recebi e-mail que começava com “Amiga de verdade:”. Se especificou, é que existem amigos de mentira. Que pena! E que bênção ter ou ser  amigo de verdade!

(Diário de Pernambuco, 17/11/2014)