Tereza Halliday |
Muito antes das redes
sociais, os brasileiros já usavam a palavra “amigo” de maneira mais ampla do que
alemães, ingleses e americanos empregam seus respectivos termos “freund” e “
friend”. Para eles, é diferente de conhecido, colega, seguidor, aliado, parceiro
de alguma atividade - a não ser que o parceiro se qualifique na categoria
Amizade – aquela relação pessoal, afetiva, cheia de confiança e confiabilidade,
que se constrói com o tempo, gentilezas, lealdade, ternura.
Não critico o
novo uso do velho termo para designar contatos de Facebook, onde alguém pode
gabar-se de ter centenas de “amigos”. Em qualquer língua, uma mesma palavra pode
ter várias acepções. Um sociólogo observou que, para o brasileiro, amigo é
qualquer pessoa que não lhe arreganhe os dentes. Por esta ótica, amigo é quem
quer que não lhe seja hostil. Por outro prisma, há amigos de Facebook, amigos
sociais, amigos afetivos e amigos profundos. Com os sociais você vai a eventos,
enturma para alguma coisa de interesse comum, mas não desabafa nem oferece o
ombro, como no caso dos afetivos – categoria mais densa, mais próxima. Amigos
podem mudar de status, conforme o curso da vida. Amigo profundo é o raro
“amigo-irmão”, confidente, diante de quem não temos medo nem vergonha. Sabe
ser presença, escutar, falar, calar. Amigos profundos nunca são muitos, são
pouquíssimos.
Não está mais
na moda, mas ainda é boa leitura “O Pequeno Príncipe” de Antoine de
Saint-Exupéry. Segundo ele, amigos se cativam – “cativar quer dizer criar
laços”. Faz-se aos poucos e a gente se torna responsável por aquele a quem
cativa. Senti o doce peso dessa responsabilidade quando recebi e-mail que
começava com “Amiga de verdade:”. Se especificou, é que existem amigos de
mentira. Que pena! E que bênção ter ou ser amigo de verdade!
(Diário de Pernambuco,
17/11/2014)