Marcelo Rebelo de Sousa é uma personalidade portuguesa que
dispensa apresentações. Ainda assim, como é habitual, Joaquim Jorge fez uma
breve súmula biográfica do convidado que fecha o ciclo de debates de 2013/14.
Uma rica síntese em que enaltece a sua trajetória grandiosa e as suas
qualidades e virtualidades.
Marcelo é daquelas pessoas que tem uma áurea. Antes do
debate, numa sala mais que esgotada, num record de participantes, foi
presenteado com um jantar de boas vindas onde algumas dezenas de membros do CdP
e convidados se fizeram representar. Logo ali Marcelo revelou a sua bonomia, a
sua simpatia para com os presentes. É afável, comunicador nato, bom contador de
histórias, bom humor, sagaz, inteligente, refinado, crente em Deus.
Iniciou o debate dizendo que combinou com JJ tudo menos do
que iria falar. Pelo que começou por fazer uma retrospetiva da sua própria vida
e o que dela retirou como experiência para a posteridade. Desde os tempos da
escola primária, ao liceu e universidade. Referiu que foi feliz e teve a
fortuna de ter nascido no seio de uma família que lhe proporcionou uma educação
esmerada, com valores. E, apesar do direito à igualdade de todos à nascença,
nem todos tem essa fortuna e logo ali se estabelecem caminhos diversos para as
pessoas. Umas talentosas não conseguem atingir o topo porque lhes faltou essa
fortuna. Enalteceu os valores que os agentes educativos tiveram na sua
educação, estando à frente a escola, a família, a igreja. Hoje, os agentes
educativos são a internet e a TV, só depois vindo a escola, a família e a
igreja, com reduzida influência. Tudo mudou nas últimas décadas e nem tudo para
melhor, mas é o mundo em que vivemos.
Para Marcelo Rebelo de Sousa a Educação é a chave do sucesso
de uma nação e a sua grande aposta (coisa que este Governo tem desinvestido,
porque diz haver licenciados a mais, estranhamente…) . Aliás, a única coisa que
sempre quis ser foi Professor, como é, um Catedrático da Faculdade de Direito
de Lisboa, com nota final brilhante. Todos os outros cargos e até profissões
que teve, foram consequência de ser Professor. Mesmo a política foi essa
extensão, seja como Ministro, Secretário de Estado, líder do Partido,
jornalista, comentador, etc.
Não tem obsessão de ser Presidente da República, como outros
terão. Instado, mais que uma vez, a afirmar-se ou não como candidato,
refugiou-se sempre que não é necessariamente o que o seu espírito analítico lhe
recomenda. Apesar disso não faz a afirmação que um dia fez, antes de ser
Presidente do PSD, que nem que Jesus Cristo descesse à Terra… para não morrer
pela boca como o peixe. Algumas pessoas regozijaram-se por não ser candidato,
porque como comentador é muito eficaz e necessário a Portugal, dado que o PR
não tem poder nenhum.
Obviamente que não percebo este desejo de algumas pessoas.
Penso que só é possível por desconhecimento do valor do cargo ou por
confundirem que um PR terá necessariamente de ser um Cavaco Silva, uma
eminência parda. Um PR, mesmo na atual Constituição Portuguesa, tem real
influência sobre os destinos do país, ao passo que como comentador, pese embora
as “bordoadas” contundentes que dá, de vez em quando, não deixa mossa no
sistema político que vivemos.
Também recusou a ideia que é uma reserva da nação, mas no
conforto do sofá. Na verdade Marcelo é um político que tem o apreço dos
portugueses de um modo geral e é uma personalidade em quem confiam, exatamente
ao contrário do que acontece com a generalidade da classe política cuja credibilidade
é zero. O país precisa em quem possa depositar a sua confiança e ganhar auto
estima e Marcelo Rebelo de Sousa poderia ser essa personalidade.
Sobre António Costa (AC) disse que o povo português vê-o com
ar messiânico, ao contrário de Seguro, que é afável, mas não é líder, revelado
(para quem pudesse ter dúvidas que o fosse) quando ao ser desafiado fez o
teatro que se lhe conhece e atirou para setembro umas Primárias que ele sabe
que os estatutos que ele blindou não o permite. JJ referiu que AC colou-se a Sócrates
e que isso é fatal porque os portugueses ainda não se esqueceram desta
personalidade sinistra. Marcelo acha que não terá importância, dado o caráter
sebastianista dos portugueses, que vêm em AC a salvação.
Do Governo de PPC, que reconhece ser um líder teimoso (umas
vezes a teimosia é uma qualidade, mas outras um defeito, que eu diria, uma
burrice) que não ouve ninguém e que nunca soube gerir bem a comunicação de um
conjunto de dossiers, mas nem assim o líder do PS se aproveitou desses tiros no
pé que a miude PPC dava. Criticou PPC tecer comentários desapropriados quanto à
forma de escolha dos juízes do TC, que é um tribunal político, pois zela pela
mais política das leis, a Constituição.
Para MRS o consenso entre os Partidos seria, por exemplo,
todos acordarem em que não mentiriam aos portugueses como tem acontecido. Todos
os Partidos deveriam afirmar que em campanha jamais prometeriam coisas que
sabiam não poder cumprir. Eu diria que este compromisso é algo elementar entre
pessoas sérias, coisa que há muito os portugueses não sabem o que é da parte
dos políticos, que são mentirosos. Em países onde há honra na prática política,
demitiam-se antes por vergonha. Em Portugal, pelos vistos, é carreira ser
mentiroso compulsivo.
Esclareceu que foi contra a Regionalização proposta em
referendo, que ele como líder da oposição conseguiu impor à maioria. Ele era
favorável às Regiões Plano e não à trapalhada que Guterres propôs. Vaticina que
após sair da crise, o país volte a discutir o tema.
JJ mostrou-se cansado e, ao contrário do desejo das centenas
de pessoas que acorreram ao debate e do próprio convidado que se disponibilizou
para ficar até à uma da manhã, deu por encerrado o debate para tristeza de
muitos participantes.
A classe do candidato é tão elevada que o fundador e
animador do CdP disse que com este debate o Clube deveria encerrar as suas
atividades porque atingiu o apogeu. Só que JJ está enganado, a cada fasquia que
ultrapassa, outra se lhe coloca mais alta. O CdP faz um serviço à nação ao
organizar a excelência dos debates livres e não-alinhados, que não pode se dar
ao luxo de encerrar.
Mário Russo |
Uma noite de estrelas a fechar com chave de ouro o ciclo de
debates. Parabéns Joaquim Jorge pelo convidado que nos trouxeste para o debate.
Melhor, impossível, se assim se pode dizer.