14/01/2014

NÃO DEIXE A TELINHA MANDAR EM VOCÊ!

Tereza Halliday
            Emplacamos 2014 com a completa integração de mais um membro da família, que chegou de mala e cuia: o smartphone, telefone portátil/microcomputador que funciona como um PDA – sigla de “personal digital assistant” – assistente pessoal digital. Ele faz quase tudo e se apresenta sob diferentes modelos e marcas. Já no segundo trimestre de 2013, superou em vendas os telefones móveis comuns. Smartphone se traduz livremente como “telefone inteligente”, mas o adjetivo “smart” em inglês também significa “ vivaz, esperto”.  Não beija, mas manda beijos; não transa, mas seduz; não ensina, mas fornece informações úteis e inúteis. Tornou-se assessor tão valioso que faz muitos de nós perdermos a noção de seu devido lugar em nosso espaço de vida.  
           
Ninguém nega sua utilidade, mas são muito “espaçosos”, usurpam a atenção plena a outras coisas relevantes -  a observação do entorno, a interação face a face, o uso pleno dos cinco sentidos. Fui à praia assistir ao nascimento da lua cheia. Momento rápido e mágico, show gratuito, disponível uma vez por mês. Encontrei muita gente -  todos enquadrando e captando a imagem do espetáculo em suas telinhas. Ninguém olhava para a lua de verdade. O importante era apenas mandar a foto para as redes sociais e esperar as curtidas dos amigos. O momento da enorme lua a surgir do mar, afogueada, lentamente se afastando da linha do horizonte e dominando o céu, foi perdido.

 Certo restaurante afixou este aviso: “Não temos sistema de wi-fi. Conversem uns com os outros”. Grupo de jovens dependentes de telinhas reuniu-se para jantar.  Um deles, mais sagaz e sensível, propôs: quem tirar primeiro o smartphone do bolso ou bolsa, paga a conta. Pela bem-humorada chantagem financeira, conseguiu um jantar descontraído, com as pessoas conversando face a face, ao vivo, redescobrindo o prazer de estar juntos, sem interferências eletrônicas. Cada um era mais importante para o outro do que os i-phones, i-pads e i-pods atrelados a seus corpos.

            Saber identificar o que é irrelevante/relevante para o momento é o desafio destes tempos atabalhoados. A abordagem zen ensina que é saudável, prazeroso e produtivo dar atenção completa a cada minuto e tarefa.  Não lavar os pratos para acabar logo e ir fazer outra coisa. Mas lavar os pratos para lavar os pratos. Não ajudar o filho nas tarefas escolares para acabar logo e ir ver televisão, mas para estar com o filho naqueles minutos de ajuda. E que momento rico, quando se está integralmente dentro dele! Não participar daquela reunião chata para atender ao chefe, mas para participar da reunião. Quanta experiência e “insight” pode-se adquirir com as besteiras de uns e a sensatez de outros participantes! Não jogar fora o momento de namorar ao vivo, atrelando-o a uma telinha.  Estar plenamente presente para cada pessoa e em cada lugar.   Enfim, doar-se por inteiro a cada instante, sabendo quando é a vez do mundo virtual e quando é hora de viver no mundo real.