Miguel Mota |
Recebi, por correio electrónico,
um livrinho intitulado “Manual de agricultura urbana”. É um tema que defendo há
muitos anos. Por exemplo: além de outros mais antigos, “A produção agrícola dos
pequenos quintais” (Jornal de Sintra de 30 de Maio de 2008) e “A horta na
varanda” (Linhas de Elvas de 20 de Dezembro de 2012).
“Manual de agricultura urbana” é
publicado em espanhol por “Azoteas Verdes”, do México. Para aquela agricultura
que clama não aplicar produtos de síntese, o livrinho usa as designações erradas
de agricultura orgânica e produtos orgânicos (também usadas na Grã-Bretanha e
nos Estados Unidos), como se houvesse batatas ou vacas inorgânicas. Outras designações
erradas, usadas em Portugal e França, são as de agricultura biológica e de
produtos biológicos, como se houvesse couves ou ovelhas que não sejam seres
biológicos. A Espanha usa as designações mais correctas de agricultura
ecológica e de produtos ecológicos, que estão mais próximas das condições
ecológicas naturais. Aliás, sempre ensinei aos meus alunos dos cursos de
engenharia agronómica que fazer agricultura é orientar a ecologia no sentido
que mais interessa ao homem.
Voltando à agricultura urbana,
isto é, aquela que é possível fazer em quintais ou varandas, é possível
incrementar o que já se faz, com grandes vantagens. E o livrinho dá boas
indicações sobre a forma de cultivar as diferentes espécies, a preparação do
solo ou dos vasos a usar nas varandas ou terraços, a compostagem, para
aproveitar todos os detritos orgânicos e para os transformar em excelente
fertilizante, épocas de sementeira ou plantação, pragas e doenças e algumas
formas de as combater.
As vantagens são múltiplas. Os
produtos vão directamente da produção para o consumo, sem demoras de transporte
e armazenagem, que lhes fazem perder qualidades. Há a certeza de não conterem
produtos tóxicos, a menos que o produtor, se os tiver utilizado, não respeite o
intervalo de segurança. Em relação a frutos, que para o mercado são com
frequência colhidos bastante antes da completa maturação, para poderem aguentar
o transporte e armazenagem, no quintal só são colhidos quando a maturação está
completa, assim aproveitando melhor as suas características de sabor e aroma.
Não há custos de mão-de-obra,
pois o trabalho é um bom e agradável exercício para os membros da família.
Quando há crianças, constituem uma excelente aprendizagem da biologia das
plantas, desde a germinação da semente à frutificação.
Tudo isto se pode fazer em
quaisquer quintais, grandes ou pequenos, e até nas varandas, onde normalmente
só vemos plantas ornamentais. À escala do país, são muitas toneladas de bons
alimentos que não aparecem nas estatísticas mas muito contribuem para a
economia e a saúde dos portugueses.