16/10/2013

Privatizações à força: uma boa opção?

Mário Russo
Está anunciada há muito a privatização da TAP, que só não o foi por uma mera questão burocrática. Agora é a vez de alienar a EGF, uma empresa pública holding do Grupo AdP, responsável pelo tratamento de 60% dos RSU gerados em Portugal. É constituída por 12 empresas multimunicipais que cobrem o país, sendo detida em cerca de 51% pelo Estado e 49% pelos municípios em cada uma das 12 áreas de intervenção. Alguns exemplos são: a Valorsul, Valorlis, Resulima, Algar, Valnor, Suldouro, etc.

Estas empresas têm desenvolvido um bom trabalho técnico, social e ambiental e ainda por cima são rentáveis. Por ano têm exibido lucros superiores a 20 milhões. Têm um património avaliado em mais de 900 milhões de euros. Pese embora algumas delas sofrerem do atraso de pagamentos devidos pelo tratamento de RSU que alguns dos seus sócios, e ao mesmo tempo clientes (municípios), se arrogam cometer. Ainda assim, não há caso de o serviço ser interrompido, como aconteceria se fosse empresa privada.  
Recente avaliação das 12 empresas situou-se nos 200 milhões de euros. É de facto um (mais um) negócio da China para empresas privadas internacionais. O que vai acontecer? Fusão entre todas estas empresas de modo a constituir apenas uma, com sucursais (atuais empresas multimunicipais) e alguns milhares para o desemprego, como é comum nestes casos. Um único CA e diretores em cada sucursal.

Não está em causa que o setor possa ser desenvolvido por privados. Basta ter um Regulador forte e competente, como é o caso da ERSAR. O que vislumbro é a oportunidade ser muito má. Primeiro por afastar as empresas portuguesas do páreo, devido à escassez de dinheiro e em segundo porque em crise quem ganha é o comprador. Sendo um serviço que é um monopólio natural, poderia ser reserva nacional, com vantagens. Estas empresas públicas poderiam ter uma estratégia de internacionalização, que não têm, apesar da muita experiência detida e com qualidade apreciada.
A TAP é outra empresa que está fadada a morrer às mãos deste governo. As análises que ouço por parte dos economistas, vai nesse sentido. Infelizmente nenhuma análise vai além da avaliação contabilística imediatista e fatalista.

Recente visita ao estrangeiro em conversa de ocasião com colegas de vários países disseram-me o seguinte sobre a Ibéria, que se fundiu com a British, e a Alitália, que se fundiu com a Air France: A British levou as boas rotas da Ibéria e a Air France as da Alitália. A Ibéria está em apuros. Despediu milhares. A British não. A Alitália está em falência e corria esta semana o perigo de não ter gasolina, por corte de fornecimento pela ENI. Espanha e Itália perderam as melhores rotas que agora enchem UK e Paris de visitantes e investidores.
Uma companhia aérea de bandeira não vale apenas pelo seu resultado direto, mas pelo indireto que é injetado na economia do país. Disseram-me eles: Se Portugal vende a TAP (muito apreciada pela sua qualidade e segurança), sem avaliar estes casos só pode perder.

São casos que o Governo deveria estudar bem antes de vender a empresa pública. Deveria encetar uma reforma na empresa, enxugando-a e modernizando-a. Como acionista tem obrigações que não consigo entender como possam ser ignoradas ou condicionadas por vontades da UE (muitas vezes serve de desculpas para certas decisões políticas autóctones).
Infelizmente o Governo não governa, apenas anda à procura de saber onde vai buscar dinheiro para cumprir as ordens da Tróika. Vai de corte em corte sempre nos mesmos. Cada vez há menos dinheiro na mão dos trabalhadores para dinamizar a economia. As falências sucedem-se e a tristeza idem. Não sobra tempo para o Governo pensar, estudar, decidir e governar estabelecendo as melhores opções. Assim o país continua cada vez mais definhando e morrendo à mingua. Temos um governo que se comporta como um moribundo à espera de morrer, que já não tem forças para resistir e abandona… a vida.