22/10/2013

Pânico nos partidos

Miguel Mota
Os partidos entraram em pânico.  Alguns portugueses acordaram do seu sono letárgico e, usando o pouco que a actual ditadura lhes dá de liberdade, apresentaram à Assembleia da República um pedido de alteração da Constituição, para alterar o Artigo 151º, de forma a poderem colocar na AR, como seus representantes, quem os cidadãos desejam e não quem os chefes dos partidos querem.

Levantou imensos protestos! Todos os partidos menos um votaram contra. Votou a favor o Bloco de Esquerda, honra lhe seja feita. E veio nos jornais que os independentes na AR seriam um atentado à democracia!!! Como inversão de conceitos, não se consegue melhor.

Esta escandalosa inversão de conceitos que os partidos mostram, são fruto do pavor de verem alguns portugueses acordarem e começarem a aperceber-se do enorme logro em que têm vivido ao longo de quase quarenta anos. Porque podem protestar à vontade –  incluindo o “direito” de insultar e apedrejar... – mesmo que nada alterem do sistema, vão para casa satisfeitos... porque puderam protestar. Têm-lhes dito que isto é “democracia”, e não se aperceberam, até agora, que estão submetidos a uma ditadura que se mostra bem pior que a outra, que afundou o país para uma situação ainda pior do que aquela de que a anterior o tirou e que causou à grande maioria dos portugueses uma perda do seu nível de vida como não há memória!

Esperemos que esta amostra de querer sacudir o jugo de ditadores sem escrúpulos aumente e que os seis mil que acordaram se transformem em seis milhões, para mudar esta antidemocrática Constituição e haver, em Portugal, democracia.
Para os leitores que estão a pensar que eu quero abolir os partidos – o que não é verdade - transcrevo o parágrafo final do artigo “Partidofobia e partidocratite”, que publiquei no Expresso, em 1979, tinha a revolução cinco anos e, estando mal, Portugal não estava como está agora:
“Partidos políticos como congregações de homens com o mesmo credo político, sim! Partidos como órgãos de poder paralelo, não! E partidos como órgãos de poder ditatorial, três vezes não!"