07/10/2013

FRATERNIDADE NÃO ESTÁ NO DNA

Tereza Halliday
    Palavra bonita, esta: irmão. Em todas as línguas soa bem. Tão boa que transcende a designação dos laços de sangue e define outras relações afetivas profundas, como Irmã de Alma e Amigo-Irmão. Quem tem, sabe a bênção que é.
   
   No território linguístico brasileiro, “irmão” tornou-se também pronome de tratamento entre membros de certas igrejas evangélicas. Subentende-se “Irmão em Cristo”. Mas não aplicariam o termo aos católicos, que também têm Jesus como Messias e Salvador da Humanidade. Uma amiga de igreja protestante  comentou: “eles não chamam de irmãos nem mesmo os batistas, os presbiterianos...” E deu uma risada. Irmão é somente o afiliado a determinadas igrejas evangélicas das quais os empregadores do termo fazem parte.  Reconhecemos, contristadas, a intolerância religiosa, às vezes, disfarçada, mas ainda vigente em todas as partes do mundo, onde grupos - dentro e fora do cristianismo - estão convictos de ser melhores do que os outros e se antagonizam por isto.  Tal qual torcedores de time de futebol.

    Especialista em História das Religiões explicou-me que o emprego da palavra “Irmão” entre pessoas da mesma fé, advém dos primórdios da Igreja Católica, com a formação de organizações chamadas Irmandades e Fraternidades. Persiste como título e pronome de tratamento dado a freiras e frades de certas comunidades religiosas que vivem em conventos. A palavra estendeu-se a outras irmandades, fora da Igreja, como os maçons, que se tratam por “Irmãos”. Na onda de anglicização do português, muitos jovens preferem usar o termo em inglês “brother”, para expressar sua fraternidade em música, protestos, “galeras”.

    Todavia, parece que fraternidade não está em nosso DNA. Precisa ser ensinada pelo exemplo e aprendida nas primeiras interações da criança.  Do mesmo modo como se semeia ódio e aversão, desde o berço, a determinados cohabitantes do planeta, demonizando quem não for “como nós”, podemos semear nas crianças simpatia e empatia por seu semelhante, mesmo quando há divergências e dissemelhanças. Num ataque de fantasia, que não me ocorre com frequência, imaginei um mundo onde todas as pessoas se tratassem por “irmão” e “irmã”, sentindo este elo genuinamente dentro de si, sem se importar qual a religião do outro, nem mesmo se ou outro tem ou não uma fé. Pura fantasia, meu irmão!

(Diário de Pernambuco, 7/10/2013)