09/10/2013

Entrevista de Joaquim Jorge ao MIC ( repescada)

Entrevista Electrónica do M!C
-Joaquim Jorge
[MIC, 15-12-2012] |
O nosso entrevistado de hoje é Joaquim Jorge, biólogo, nunca exerceu nenhum cargo político mas que considera que fez política ao fundar o Clube dos Pensadores.
Joaquim Jorge continua no Clube dos Pensadores a praticar um exercício de Cidadania ao levar ao clube personalidades de diversos quadrantes para debate e discussão dos mais variados temas transversais à sociedade portuguesa.


O que pensa do exercício da cidadania.

É algo que dá muito trabalho mas é muito importante. Muita concentração, esforço, paciência, continuidade, meditação, solidão e constante actualização. Todo o cidadão deveria ter um software de cidadania na sua mente.

O que entende pelo poder dos cidadãos.

A democracia não se esgota no voto, votar é uma maneira muito pobre de intervir e de exercer a nossa cidadania. Devemos agir politicamente, participar em debates políticos, tomar posição, defender os nossos direitos e pontos de vista. Usar os meios que temos à nossa disposição para o fazer (blogosfera, redes sociais, etc.), lançar petições individuais ou colectivas aos órgãos de soberania, participar em organizações profissionais e sindicais, lutar por condições de equidade, justiça e bem-estar para si e os demais cidadãos. Participar em movimentos e organizações da defesa dos direitos humanos, do ambiente, património cultural, solidariedade social, voluntariado, etc. Denunciar crimes e ser contra a corrupção. Reclamar, indignar-se, protestar e participar em manifestações, etc.

O que pensa sobre movimentos de cidadãos, com ou sem fins eleitorais.

Estas são algumas atitudes que um cidadão ou cidadã responsáveis devem tomar com o sentimento de dever e responsabilidade. Estas posições são essenciais à democracia. Porém há o reverso da medalha. Será que os partidos políticos e o governo ligam faça o que se fizer? O que se faz tem consequências? Não me parece…
Existe um mal-estar social latente e querem mudar este estado de coisas. Infelizmente os nossos governantes emanados dos partidos fazem parte do problema e não da solução.
Tem havido imensas manifestações, no dia 12 Março de 2011, recentemente a manifestação de 15 de Setembro, talvez a maior de todas. Há movimentos de cidadãos que despertam simpatia, clubes de reflexão, etc. Todas estas iniciativas colhem o seu impulso na insatisfação no modelo político vigente.
As dúvidas persistem para ver quando haverá mudanças. Não há dúvidas que se tem que mudar, o problema é saber quando e que mudanças ?A democracia como a conhecemos tem os dias contados. As respostas estão nas ruas, em manifestações, greves, jornadas de luta, etc.

O que entende sobre democracia participativa.

A resposta a esta questão está implícita na resposta anterior. Qualquer instituição deve e tem que prestar contas. Esse é o lema da participação cívica. No fundo ser ouvido e escutado nas decisões dos nossos governantes, a democracia participativa é um complemento da democracia representativa.

O que pensa da possibilidade de candidaturas independentes à Assembleia da República, e sobre a modificação da lei que o permita.

Esta crise actua como uma lupa em que mostra os defeitos da democracia que já existiam mas não se tinha a exacta percepção e se sentiam.
A resposta a esta crise está entrelaçada: a resposta para a saída da crise está na política e nos políticos, mas por sua vez a política e os políticos estão em risco pelo descrédito e má imagem na opinião pública.
A maioria dos cidadãos são a favor de mudanças na Constituição, nas instituições públicas e no modelo de Estado. A possibilidade de haver deputados independentes seria muito importante mas não me acredito que os partidos votem essa alteração na Constituição serão precisos 2/3 do número de deputados.

Qual a sua opinião sobre o Orçamento de Estado para 2013, e qual deve ser o papel do Presidente da República na apreciação do mesmo.

O OE 2013 foi aprovado, mas há muitas incertezas na sua execução, concretização e aplicação. E, o pior de tudo se os portugueses vão aguentar tudo isto com parcimónia e brandura.
O próprio Vítor Gaspar alerta para os perigos de uma crise política numa situação de crise económica. Muita gente da maioria vê neste OE riscos significativos pelo esforço ser quase todo do lado da receita e muito pouco ou quase nada do lado da despesa.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) acredita que Portugal só irá cumprir as metas para o défice em 2013 e 2014 com recurso a medidas adicionais, solução que não aconselha. Agora no campo legal resta pedir a fiscalização sucessiva da constitucionalidade do Orçamento do Estado.
Uma das questões interessantes que se levantam, relativamente ao nosso futuro político é descobrir o que vai acontecer quando não houver nada e saber se sobrevivemos a isso.
Outra questão interessante é ver até que ponto aguentamos esta brutal austeridade que só se vai sentir no ordenado no final de Janeiro de 2013. Porém já se fala à boca cheia que são precisas medidas adicionais. Sinceramente , quando acabam com isto ? Quando negoceiam outro tipo de politicas?
Viver em Portugal é resistir, não podemos vegetar na ignorância e na passividade.

Pensa que algum dia será possível um esforço conjunto das forças de esquerda, nomeadamente dos partidos com assento parlamentar, BE, PCP, PS e movimentos de cidadãos unirem-se numa estratégia de desenvolvimento e aprofundamento da democracia no nosso País, melhor dizendo, pôr Portugal no comboio da frente do desenvolvimento esquecendo as querelas partidárias.

Sou completamente a favor de termos um desígnio nacional: salvar Portugal. Portugal tem que estar acima de querelas partidárias. Actualmente a política é o momento. E o momento não se compadece com divisões.