Miguel Mota |
Os partidos andam muito atarefados
a tentar encontrar os seus “candidatos” para as Câmaras Municipais e Juntas de
Freguesia. Acontece que, para as autarquias já se abriu aquilo a que chamei
“uma pequena janela democrática”. Já podem, também – devia ser exclusivamente –
apresentar-se candidatos apenas apoiados por um certo número de eleitores do
seu círculo.
Desde que há essa pequena janela
democrática já foram vários os casos em que estes candidatos autenticamente
independentes derrotaram os dos partidos. Lembro que os “independentes”
apresentados em qualquer lista partidária só lá estão porque o partido espera
que eles façam o que o partido deseja.
Um outro aspecto que está a ser
considerado muito importante é quem “ganha” as eleições autárquicas,
naturalmente, em termos de partidocracia. A não ser pela presidência da
Associação de Municípios, não sei que reflexos possa ter nas eleições gerais um
partido ter a presidência de mais uma Câmara Municipal do que outro.
Temos provas de que os eleitores,
quando podem votar livremente – infelizmente para a Assembleia da República não
podem – escolhem pessoas e não partidos. Antes de se abrir a “pequena janela
democrática” já tínhamos uma prova desse facto. O Presidente da Câmara Municipal
de Ribeira de Pena, que tinha sido eleito pelo CDS, ia, nas eleições seguintes,
ser eleito pelo PS, então no governo. Na sua ingenuidade, o candidato declarou,
creio que a uma rádio e em jeito de justificação, que “quem está com o poder
come; quem não está cheira”. O PS não gostou e decidiu que ele não seria o seu
candidato. Mas os eleitores gostaram da sua acção como Presidente e desejavam
reelegê-lo. Como nessa altura a ditadura partidocrática ainda era total – como se mantem para a
Assembleia da República – e ele não podia concorrer como independente, concorreu
pelo PPM e ganhou! Como escrevi em 1997:
“Com a habitual miopia
partidocrática, o PS resolveu "castigar" esse seu autarca. E, dentro
do sistema ditatorial-partidocrático em que vivemos, resolveu que ele não seria
o candidato do PS a essa câmara. Custou caro, ao PS, a miopia!O ex-PS concorreu na lista doutro partido, no caso o Partido Popular Monárquico (PPM). Podia ter sido qualquer outro! Como a população considerou que esse autarca era bom ou, pelo menos, melhor do que os outros candidatos, votou maioritariamente PPM!
Porque deu subitamente um desejo de monarquia nesses eleitores? Obviamente que não. Queriam lá saber disso! O que queriam era o seu antigo autarca e, se a maneira de o ter era votar "monárquico", votava-se monárquico!
E o PS ficou a chuchar no dedo!
Como prova da desgraça do sistema que nos impuseram, com uma Constituição que também nos impuseram, sem ser plebiscitada, não se pode ter melhor.”
Em tempos mais recentes, nas
últimas eleições autárquicas, temos um exemplo ainda mais flagrante de que os
eleitores não querem saber de partidos mas sim de pessoas. Como escrevi em 2009:
“A demonstração do que afirmei no
início foi dada pelas eleições autárquicas de Faro e Tavira. Na grande maioria
dos casos os Presidentes das Câmaras Municipais foram reeleitos e é bem
evidente que se Macário Correia quisesse continuar a presidir à Câmara
Municipal de Tavira também seria reeleito. Confiado na sua boa capacidade como
autarca, resolveu candidatar-se a Faro, a capital do distrito e, portanto, com
mais alargadas responsabilidades. Era uma candidatura arriscada porque, dentro
da regra da reeleição dos Presidentes, teria de ganhar a José Apolinário e até
lutar contra a imensa propaganda socialista, ajudada por uma boa parte da
comunicação social. Macário Correia (PSD) ganhou a José Apolinário (PS). Porque
os farenses resolveram preferir a Social Democracia ao Socialismo, se os nomes
dos partidos tivessem alguma validade? Certamente que não. Apenas consideraram
que Macário lhes dá mais esperanças de fazer melhor que Apolinário.
Em Tavira - onde certamente
Macário (PSD) seria eleito se se tivesse candidatado - foi eleito Jorge Botelho
(PS). Porque os tavirenses decidiram preferir o Socialismo à Social Democracia?
Certamente que não. A razão óbvia é que, não podendo ter Macário, o candidato
que lhes pareceu melhor foi Jorge Botelho que, por acaso, até era dum partido
diferente.”
O meu conselho aos portugueses é
que, para as próximas eleições autárquicas, sempre que tenham um candidato que
considerem melhor do que qualquer dos propostos pelos partidos, não fiquem
apáticos, aproveitem a tal pequena janela democrática, e tratem de chamar para
ele a atenção dos eleitores, como já sucedeu nalguns casos, como referi. Quando
– ou se - em Portugal houver eleições livres – o essencial duma democracia – ,
os partidos deixarem de ser órgãos de poder (neste país são órgãos de poder
ditatorial) e os cidadãos puderem escolher livremente os seus deputados, é isto
que vai acontecer nas eleições para a Assembleia da República. Então, sim,
serão os “nossos” deputados, aqueles em quem livremente delegamos um poder que,
em democracia, totalmente nos pertence.