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Mário de Oliveira |
Ou nós, as
populações e os povos da terra, ou o Dinheiro. Entre ambas as realidades, a
incompatibilidade é total. Enganamo-nos redondamente, se, na afirmação em
título, em lugar da disjuntiva, Ou, colocamos a copulativa, E. Porque o
Dinheiro, onde estiver, sempre nos devora. O mal, é admiti-lo nas nossas vidas,
tê-lo como parceiro nos nossos projectos. Pior que o lobo a cuidar dos
cordeiros, é pormos o Dinheiro a cuidar das nossas vidas. O Dinheiro é o
inimigo. Ou o decapitamos, uma e outra vez, sem hesitar, até o erradicarmos
definitivamente da face da terra, ou ele apodera-se de nós, da nossa mente, da
nossa alma, dos nossos corpos, das nossas entranhas, e nunca mais chegamos à
dimensão de sujeitos e de protagonistas na história. Somos, por toda a vida,
seus reféns, servos, súbditos, vassalos, escravos. Sem vez nem voz. E ele, o
único Senhor, o único Deus, o único Amo.
E pensarmos
nós que no princípio, não era assim. No princípio, era o Amor, a Comunhão. A
Terra e tudo o que a Terra produzia, era de todos. Até que chegou o Dinheiro,
travestido de Deus. Com ele, chegaram também os sacerdotes e todo o tipo de
livros ditos sagrados, com destaque para a Bíblia, que os próprios sacerdotes escreveram
ou aprovaram. Passaram então a ensinar que a Terra e tudo o que ela produz, em
lugar de ser de todos, era de Deus. E que Deus tem direito ao primeiro fruto,
até ao primeiro filho, que os povos sucessivamente gerarem. Os povos
acreditaram nos sacerdotes, na Bíblia e nos outros livros sagrados. E, em vez
de crescerem em práticas económicas e políticas maiêuticas, que fariam deles
sujeitos e protagonistas na História, cresceram em práticas religiosas e de
caridadezinha. Os templos e os santuários tornaram-se muito mais importantes
que a própria terra, nossa casa comum, no princípio, quando o Dinheiro ainda
não existia.
Postos perante esta revelação, nós, as populações e os povos, temos de escolher: ou nós próprios, ou o Dinheiro. Como populações e povos, cumpre-nos crescer, tal como Jesus, em idade, em estatura, em sabedoria, em graça e, quando adultos, fazermo-nos pobres por opção, a única maneira de decapitarmos o Dinheiro, disfarçado de Deus. Sermos, cada dia, economia e política praticadas, mesas compartilhadas. Permanentemente habitados por Deus Abba-Mãe que nunca ninguém viu e se dá a conhecer em nós, como em Jesus, quando nos fazemos pobres por opção e, desse modo, decapitamos o Dinheiro, o Deus dos sacerdotes, da Bíblia e de todos os demais livros sagrados e respectivas religiões.