Miguel Mota |
Um dos aspectos que reputo muito
favorável foi o estímulo dado aos novos agricultores, especialmente aos jovens,
que nessa actividade já ingressaram em grande número. Desejo-lhes os maiores
êxitos, de que o país tanto necessita
Mas tenho uma dúvida, que pode ser
uma grande sombra para o futuro desses novos agricultores.
Todos agora falam na necessidade
da inovação. E a fonte da inovação para a agricultura é a investigação
agronómica. Do criminoso desmantelar dos organismos de investigação agronómica
do ministério, apenas resta uma pequena parcela do grande know how que há anos
havia e que permitiu dar muito à agricultura portuguesa. Os agricultores de
Elvas – e não só – conhecem bem o problema e certamente se lembram do que foi a
produção científica da Estação de Melhoramento de Plantas, através daquela
parte que vai directamente para o agricultor. Certamente alguns se lembram do
grande impacto de variedades ali produzidas a partir da década de 1950, como o
trigo Pirana, o Grão da Gramicha e muitas outras que se lhes seguiram e eram
cultivadas em grandes áreas. As carências de meios – quando as finanças
portuguesas ainda não eram o actual desastre – e outras armas de destruição
fizeram com que hoje a investigação agronómica do ministério seja uma sombra do
que era.
Da ideia, no princípio, de que se
ia iniciar uma recuperação, possível e necessária, mesmo nesta época de
penúria, o que se fez foi escasso e, na minha opinião, com variados erros.
Tenho imensa pena, pois sei que era possível fazer muito melhor, com reflexos
positivos na economia de Portugal e até para a sobrevivência do próprio
governo.
Não sei se a senhora ministra está
obrigada à “lei”, que tenho denunciado, que manda destruir toda a investigação
pública que não seja das universidades. Se essa “lei” criminosa, de lesa
cultura e lesa economia – e não só no sector da agricultura – continua em
vigor, o futuro desses novos agricultores ficará irremediavelmente
comprometido.