10/03/2013

Na Diocese do Porto, pior é impossível!

 

Mário de Oliveira
Desde que o Ano da Fé começou a ser materializado no terreno das múltiplas Vigararias da Diocese do Porto, é certo e sabido que a manchete de VP-Semanário da Diocese do Porto, é feita com uma grande foto e um título em toda a largura de página. Preocupação dominante: dar a impressão de que está muita gente envolvida, em cada vigararia, e que a Diocese está empenhada em estimular o despertar e o desenvolver da Fé nas populações católicas, portanto, já oficialmente crentes. Desconhece-se que tipo de Deus essa Fé sinaliza e em que é que as pessoas que a dizem professar se distinguem dos agnósticos, ateus ou indiferentes, hoje, cada vez mais, a maior “igreja” sobre a terra.

 O Bispo titular, Manuel Clemente, preside, cada fim de semana (tarde e noite de sábado, e tarde de domingo), em cada vigararia, com pessoas provenientes das múltiplas paróquias que a constituem. Com ele, vai também o Bispo auxiliar que, ao longo do ano acompanha, pastoralmente, a vigararia; e ainda o Vigário Geral da Diocese, Pe. Américo Aguiar. Só não vão os cónegos, sabe-se lá porquê. Talvez porque a Fé já lhes não diga nada, apenas a rotina e a beatice da oração das “horas”, do “Breviário”, no coro da catedral, a eles reservado, como conselheiros do Bispo, nenhum poder de decisão. A verdade é que com as suas vestes, de cores garridas, ajudavam a dar um ar ainda mais folclórico às Jornadas da Fé, uma das mais recentes campanhas que o papa emérito Bento XVI deixou à sua igreja, em todo o mundo, até final de 2013, a menos que o novo papa que lhe irá suceder decida pôr-lhe termo e fazê-la substituir por outra menos intelectual/abstracta e mais popular.

 Vale uma aposta? A julgar pelo que se faz na diocese do Porto – e estamos numa diocese modelo, paradigma, presidida pelo único Bispo Prémio Pessoa – quando o Ano da Fé encerrar, pode o balanço oficial apresentar excelentes resultados à Cúria romana, mas é certo e sabido que as populações residentes nas paróquias de cada vigararia estarão ainda mais descrentes que antes, por isso, mais beatas e carregadas de mais vícios e rotinas religiosos.

 Os testemunhos de Fé que são dados/escutados cada tarde de sábado, na presença dos Bispos e do Vigário Geral e dos párocos, são um somatório de infantilidades e de banalidades, porque a isso e só a isso leva a Fé religiosa e cristã. As considerações pastorais feitas aos testemunhos, por parte dos três craques da diocese, são um improviso sem ponta por onde se lhe pegue, no respeitante ao conteúdo teológico, a revelar que nem na cúpula, a igreja diocesana do Porto faz ideia do que é viver a Fé, a mesma de Jesus.

 A noite desse mesmo sábado é entregue aos jovens católicos, os poucos que ainda andam nas catequeses para o Crisma e depois se despedem solenemente da Igreja e enveredam pelo ateísmo ou pela indiferença. Apresentam, juntamente, com os que cantam nas missas de domingo, os acólitos, escuteiros e catequistas umas quantas “animações”, previamente ensaiadas, e elaboradas com base em temas bíblicos, cujos reais conteúdos, eles próprios não fazem ideia quais sejam. Já, na tarde do domingo, lá vem a inevitável missa solene presidida pelo Bispo e concelebrada pelos párocos, um número litúrgico que, até, poderia ser de encher o olho, se acontecesse uma vez na vida de alguém. Mas como é sempre a mesma peça de teatro, reproduzida, todos os domingos, vai para dois mil anos, redunda numa estopada de todo o tamanho, tanto para quem preside, como para quem assiste e, até, para Deus que, felizmente, nunca põe lá os pés, já que – revela-nos a mesma Fé de Jesus! – Ele não gosta de missas, nem de sacerdotes, nem de altares, nem de cruzes-instrumentos-de-tortura, nem de sacrifícios, muito menos, do sacrifício do seu próprio filho.

Ano da Fé? Mas que Fé? Quem interpela quem? Quem desperta quem? E que lugar para os ateus, neste rotineiro modo de “celebrar” o Ano da Fé, semana após semana? E que lugar para as irmãs, os irmãos que, por força da Fé que praticam, não sabem nem querem saber de rezas de terços, nem de missas, nem de novenas, nem de altares, nem de paróquias, nem de vigararias, nem de sacerdotes? Que Fé religiosa cristã católica é, pois, essa que não se abre a estas irmãs, a estes irmãos dissidentes, nem se deixa interpelar pelo viver delas, deles, à intempérie e nas trincheiras, no prosseguimento de Jesus?!