Manuela Vaz Velho |
Cheguei tarde a casa e não pude assistir aos telejornais
normais e sintonizei a SIC notícias. Fiquei um pouco abismada com o
embalsamento do Presidente Hugo Chávez e com a comparação que o general Ornella
fez com o com os presidentes Ho Chi Minh, Lenine e Mao Tsé Tung ( Mao Zedong
para os anglo-saxónicos) que ficaram eternamente à vista do povo em urna de
vidro. Preocupou-me também que por duas vezes a jornalista da SIC insistisse em
chamar ao general Ornella de general Ortega, mas também a Nicarágua não dista
tanto assim da Venezuela e daí a confusão geográfica e temporal. Fiquei
contente com o 1:0 do Benfica-Bordéus, mas tive uma enorme crise existencial
quando ouvi que o Berlusconi, que tantas vezes subiu à barra por corrupção,
incentivo à prostituição e agora por divulgação de informação confidencial, que
foi três vezes governante desse país de que eu tanto gosto (e por isso me custa
a aceitar que o tenham elegido 3 vezes), tenha sido condenado a pagar à sua
ex-mulher uma pensão de alimentos de 100 mil euros por dia. Isso é que
realmente obsceno! Como é que um tribunal pode condenar alguém a esta multa.
Não é que eu tenha pena do Berlusconi, ele merece pagar estes 100 mil euros por
dia mas não necessariamente à sua ex-mulher. Quando a Suíça, com aquela mania
dos referendos, aprova uma diferença salarial entre o ordenado mínimo e o
máximo, com a qual eu até nem concordo, porque acho que há salários elevados
merecidos, como posso concordar com pensões de alimentos de 100 mil euros por
dia? Só mesmo se fosse a ex-mulher do Berlusconi! Estavam resolvidos todos os
meus problemas e os da minha cidade se fosse a Veronica Lario. Mas
não foi ela que assim o determinou, mas sim o tribunal que cremos ser de
justiça. E deve ser por isso que o Berlusconi tem tanta
saída. Invertendo os sexos, há uma anedota alentejana de que eu gosto muito que
resumidamente diz assim: Ó compadre, achas que ele casou com ela por amor ou
por interesse? Ao que o compadre responde: Deve ter sido por amor que ela não
tem interesse nenhum. Em todas as épocas, mas sobretudo nesta época de crise,
os escrúpulos são cada vez mais escassos, as mulheres (e os homens) cada vez mais
oportunistas, e julga-se em tribunal por vias travessas: Tal como o Al Capone
foi condenado for fuga ao fisco, não por matar e traficar, também o Berlusconi
foi apanhado desta maneira. Mas há alguém que claramente passou a ganhar 100 mil
euros por dia sem fazer nada (perdoe-me a Veronica porque posso estar a
diminuir o peso do sacrifício de viver com o Sílvio), mas a não ser que crie
uma fundação benemérita com esse abono do tribunal, a sua e a nossa condição de
mulher ficam bastante abaladas.