17/02/2013

O que perguntaria a Miguel Relvas

Mário Russo
Eu tenho muita pena de não poder estar presente a este debate que será certamente muito polémico e promete boa discussão, porque àquela hora estarei a voar para outras paragens.

Joaquim Jorge está de parabéns porque este debate é importante e oportuno. Permitirá a Relvas “desabafar”, ante tanta contestação à sua pessoa, essencialmente devido ao obscuro processo de obtenção da licenciatura, revelador de certo provincianismo. Aconteceu o mesmo com Sócrates. Infelizmente os portugueses são complexados e ainda impera a síndrome dos senhores doutores/licenciados. A competência e a inteligência não estão aliadas aos títulos académicos, mas às características intrínsecas de cada pessoa.

Relvas é um dos poucos ministros políticos e um articulador entre Governo e Parlamento que está a ser queimado em lume brando por sua culpa e por isso a sua eficácia reduz-se muito e com isso o Governo perde estratégia e campo de manobra e ação.

Ao vir ao Clube dos Pensadores Miguel Relvas revela coragem, pois vai expor-se publicamente. Por isso tiro-lhe o chapéu.
Não podendo estar presente, gostaria de fazer perguntas a Miguel Relvas sobre o rumo que o seu Governo conduz o país com a aplicação da receita monetarista e porque continua a teimosia em aplicar uma receita falhada.

Com efeito, o desemprego de perto de 1 milhão de portugueses pode ser entendido que “estamos no caminho certo” senhor Ministro? E ainda pior “em linha com o previsto”, e não se fazer nada para contrariar? Que insensibilidade e malvadez senhor Ministro.
Acreditar nos economistas que levaram o mundo ao atual colapso, sobretudo nos EUA e Europa, e que são os mesmos que debitam a receita para saída da crise, não é o mesmo que pôr a raposa a guardar o galinheiro?

Porque é que o Governo não ouve especialistas não comprometidos com os saqueadores da arca que nos vão governando politica e economicamente, como o Nobel Paul Krugman ou Nouriel Roubini, que de há quase uma década vêm alertando para o caminho do precipício em que nos dirigíamos? Que apenas dizem que o que se está a fazer na Europa e é UM DISPARATE TOTAL?
Porque o Governo em vez de se focar no défice não se concentra nas políticas de emprego? Porque, como alguém conhecido disse, É a Economia Estúpido.
O Ministro Relvas acredita mesmo que tem de ficar de cócoras diante da Tróika e que nós acreditamos?
O Ministro  Relvas acha que o Governo não tem voz ativa e é apenas uma correia de transmissão da Tróika, como vez por outra faz crer, ao sacudir a água do seu capote?

O Ministro Relvas acha que um povo que aceita ser pobre é invencível? Como dizia Salazar, e por isso está a transformar os portugueses em verdadeiros pobres com esse objetivo ideológico?

Impor salários chineses aos portugueses, cortes nas funções básicas do Estado e cortes generalizados e cegos que reduzem a massa monetária na economia, têm agravado o desemprego e com ele menos arrecadação de impostos, mais despesa social com mais desempregados e mais défice. Ou seja, entramos num ciclo vicioso de pobreza ou espiral recessiva, já reconhecidos até pelo fundamentalistas e monetaristas do seu governo. No entanto insistem diante das evidências. O país pode cair na violência social. O que diz um ministro político a esta teimosia? Concorda? É impotente porque está fragilizado?