22/12/2012

Mas que mentira mais perversa e assassina dos seres humanos!...


Mário de Oliveira
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  • Não há mito mais perigoso para as populações do mundo do que o mito do messias/cristo libertador/salvador, fundamento das chamadas três religiões do Livro: judaísmo, cristianismo, islamismo e de outras mais. Mas não há outro que tenha acompanhado e contaminado tanto, as populações do mundo, como este. É à sombra e às custas dele, que existem, há milénios e sem qualquer contestação, os sacerdotes (Poder religioso), os reis/chefes das nações (Poder político e armado), os ricos (Poder económico-financeiro, hoje, já quase exclusivamente financeiro).
Cada nova geração de seres humanos que vem a este tipo de mundo, já o encontra formatado, dirigido, dominado, controlado pelos sacerdotes, os reis/chefes das nações e os ricos. E porque é assim, desde que os seres humanos se conhecem a si mesmos – somos os únicos seres vivos que temos consciência de nós mesmos e uns dos outros e que formulamos perguntas, sobre perguntas – acabamos mais ou menos todos a concluir que um tipo de mundo, assim, faz parte da natureza das coisas. E ai de quem apareça a dizer o contrário e a tirar o véu ideológico/teológico que esconde a realidade das realidades – os seres humanos de todas as falas, cores, culturas, nações – para que todos e cada um de nós tomemos consciência (= deixemos de ser cegos) e vejamos que, ao contrário do que mentirosamente nos dito e ensinado, nas catequeses todas e nas universidades todas, o mundo real é, precisamente, o que está por debaixo desse manto ideológico/teológico, e não o manto ideológico/teológico que, há séculos/milénios, no-lo esconde e mascara.
Só num mundo faz-de-conta, todo encenação/máscara, como este tipo de mundo que conhecemos, há lugar – e lugar cativo, incontestado, justificado, até, por uma certa ideia interesseira de Deus – para sacerdotes (Poder religioso), reis/chefes das nações (Poder político e armado), ricos (Poder económico-financeiro), reiteradamente apresentados à multidão dos seres humanos, nascidos e mantidos propositadamente cegos desde nascença, paralíticos, destroçados, humilhados, como absolutamente indispensáveis e como os seus libertadores/salvadores, e do planeta.

Mesmo que, durante várias gerações, algum dos três Poderes, ou os três ao mesmo tempo, entrem em colapso, fica sempre, a pairar no ar, que, um dia, tudo vai mudar, ser diferente. É a chamada esperança. Não aquela que nasce da realidade/verdade – os seres humanos de todas as falas, cores, culturas, nações – a única politicamente mobilizadora, mas a chamada esperança mítica messiânica/cristã, que leva os seres humanos a esperar, por entre rezas e suspiros, promessas e peregrinações a santuários, a libertação/salvação oferecida, de mão beijada, por um messias/cristo/Poder invicto que está para chegar. E que, com essa sua chegada, fundará um novo mundo onde não haverá mais nem lágrimas, nem dores, nem doenças, nem morte! E se não para todos, pelo menos, para aqueles seres humanos que nunca desesperaram e mantiveram acesa a esperança mítica no Messias/Cristo todo-poderoso. Entre os quais, se incluem aqueles muitos biliões e biliões que, entretanto, morreram, sem nunca terem visto chegar o Cristo/Messias e a libertação/salvação. Também esses – insistem os profetas messiânicos/cristãos, vendedores de ilusões, junto dos seres humanos alienados pelas religiões e suas fés – quando o Messias/Cristo chegar, verão os seus cadáveres erguer-se dos túmulos e todos os seus ossos juntar-se, de modo que, também eles, vivam e louvem eternamente o seu libertador/salvador vitorioso. Mas que mentira mais perversa, cínica, opressora e assassina dos seres humanos!...

 Ora, os seres humanos, catequizados/formatados por este mito messiânico/cristão, versão sagrado/religioso, ou versão secular/laico, são sempre politicamente passivos, resignados, conformados, parados, prontos, até, para se oferecerem em sacrifício, na defesa dos sacerdotes, dos reis/chefes das nações, dos ricos, e do seu tipo de mundo, intrinsecamente, perverso, porque organizado em pirâmide, em lugar de em vasos comunicantes. E depois de todos estes séculos/milénios, a convivermos com o mito do messias/cristo do judaísmo, cristianismo, islamismo e outros que tais, a verdade é que resistimos, muito mais do que noutras épocas, a toda a prática/palavra política maiêutica que, na peugada de Jesus, o filho de Maria, vise tirar a máscara que cobre a realidade das realidades, para que só esta, não mais aquela, venha à luz do dia. Somos hoje seres humanos de tal modo oprimidos, flagelados, humilhados na nossa mente/consciência – o mito do judaísmo/cristianismo/islamismo e de outras fés religiosas rouba-nos até a alma, a identidade – que já não suportamos ver a realidade das realidades, e preferimos continuar a lidar com a máscara. E este é o trágico dos trágicos do nosso Hoje-e-Aqui. Porque, por mais que ela doa, só a realidade das realidade – os seres humanos de todas as falas, cores, culturas, nações – não a máscara criada pelo mito do messias/cristo invicto, nos faz livres, autónomos, sororais, relação/comunhão maiêutica, vasos comunicantes uns com os outros, numa palavra, sujeitos dos próprios destinos.

 E num tipo de mundo assim, sem máscaras, sem messias/cristos/salvadores, edificado exclusivamente sobre a realidade das realidades - os seres humanos de todas as falas, cores, culturas, nações – ainda e sempre a construir e a desenvolver na história por nós, organicamente unidos, é que deixa de haver qualquer lugar para sacerdotes (Poder religioso), reis/chefes das nações (poder político e armado), ricos (Poder económico-financeiro). Há apenas lugar para os seres humanos/Consciência/vasos comunicantes, progressivamente, sujeitos, protagonistas. Pois é neste chão, plena e integralmente humano, nenhum Poder, que se encontra, em permanente actividade política maiêutica, a RUAH de Jesus, o filho de Maria, a quem os sacerdotes e os reis/chefes das nações e os ricos, em Abril do ano 30, matam e convertem em maldito, pior, em não-existente. Para, desse modo, poderem continuar, como os cristos/libertadores/salvadores, por sinal, cada vez mais cruéis, sádicos, cínicos, digam-se crentes em Deus, ou agnósticos/ateus. Pois bem, só mesmo fora do mito cristo do judaísmo/cristianismo/islamismo, e o de todas as demais fés religiosas ou laicas; e só mesmo dentro do, plena e integralmente, humano, há efectiva e fecunda libertação/salvação planetária, cósmica. Cabe a nós, seres humanos vasos comunicantes, de todas as falas, cores, culturas, nações – a realidade das realidades – fazer acontecer, nos nossos próprios corpos e com eles, essa libertação/salvação planetária, cósmica. Sem nenhuma espécie de cristos/messias. Por isso, sem sacerdotes, sem reis/chefes das nações, sem ricos. Numa palavra, sem qualquer espécie de Poder.