Maria de Belém Roseira, Presidente do PS e histórica deste
partido político é uma pessoa que infunde uma tranquilidade e imagem de
seriedade e elevada estatura ética e moral, que gostaríamos fosse transversal à
sociedade portuguesa. Joaquim Jorge convidou-a para debater a atual crise e
alternativas.
Em boa hora o fez, pois Maria de Belém aqueceu a noite fria
do Porto com a sua forma cristalina e serena de expressar o seu pensamento. Fez
um diagnóstico de como se chegou até ao momento atual de crise e enfatizou a
sua génese no setor financeiro e na mudança de paradigma económico e no peso
destas instituições no mundo moderno e na política em particular.
É sua convicção que a crise é geral e, após o colapso do subprime nos EUA, atingiu sobremaneira os
países Europeus, com destaque para os que tinham as dívidas soberanas mais
vulneráveis.
Joaquim Jorge questionou Maria de Belém de modo a que esta
explicitasse o que o PS tenciona fazer
de alternativo e se António José Seguro tem o perfil para liderar um governo. A
plateia inundou de perguntas semelhantes e sugestões a Maria de Belém.
Sobre as alternativas a este garrote autista que o atual
governo impôs ao país, Maria de Belém contrapôs a renegociação das condições a
que Portugal está obrigado, exemplificando as condições da Irlanda, com défice
de 8.5% este ano e com o resultado das privatizações a serem aplicados na
economia para que esta cresça, ao contrário do que Portugal terá de fazer:
abater à dívida e com isso a aniquilar qualquer hipótese de recuperação
económica e agravamento do drama do desemprego.
Na insistência da plateia sobre as responsabilidades do PS,
Maria de Belém defendeu o seu partido e Sócrates, jogando a responsabilidade
para o sistema e Europa, onde vários países se debatem com o mesmo problema. Branqueou
um pouco o peso de Sócrates nesta crise, que me pareceu demasiado generoso. Neste
aspeto, aliás, concordando que não se pode honestamente imputar todas as culpas
a Sócrates, porque é um conjunto de circunstâncias e de políticas erradas da UE
e de governos portugueses anteriores que levou a este descalabro. No entanto,
parece que o problema da governação Sócrates, em minha opinião, não é só nas
consequências desastrosas, mas na forma como governou e se comportou perante o
país, cuja credibilidade está ao nível de um Miguel Relvas.
Ainda sobre o contributo do PS, Maria de Belém Roseira referiu
as propostas alternativas do seu partido, como o banco de fomento à economia, a
renegociação do prazo e condições da dívida, cortes seletivos, entre outras,
que não têm tido repercussão na imprensa, dando a ideia que o partido não as
tem apresentado. Salientou que não é um processo fácil, pois vai exigir
sacrifícios e austeridade, no entanto compatível com a capacidade de suporte do
país, mas com um fim objetivamente melhor que o atual modelo de definhamento.
Garantiu que a continuar assim o país estará pior daqui a um ano.
Joaquim Jorge está de parabéns pela excelente escolha e momento
para o debate. O CdP está a cumprir com o seu papel cívico e dinamizador do
debate. A este respeito JJ salientou que não é necessariamente obrigatório que
em resultado de tanto debate se chegue a uma conclusão e se emita uma nota, mas
a mais-valia que é o debate na consciencialização dos cidadãos, que melhor
informados são mais difíceis de serem manipulados. Parabéns JJ, e venha o
próximo debate.
Mário Russo