23/10/2012

Maria de Belém Roseira perfumou o Clube dos Pensadores


Maria de Belém Roseira, Presidente do PS e histórica deste partido político é uma pessoa que infunde uma tranquilidade e imagem de seriedade e elevada estatura ética e moral, que gostaríamos fosse transversal à sociedade portuguesa. Joaquim Jorge convidou-a para debater a atual crise e alternativas.

Em boa hora o fez, pois Maria de Belém aqueceu a noite fria do Porto com a sua forma cristalina e serena de expressar o seu pensamento. Fez um diagnóstico de como se chegou até ao momento atual de crise e enfatizou a sua génese no setor financeiro e na mudança de paradigma económico e no peso destas instituições no mundo moderno e na política em particular.
É sua convicção que a crise é geral e, após o colapso do subprime nos EUA, atingiu sobremaneira os países Europeus, com destaque para os que tinham as dívidas soberanas mais vulneráveis.

Joaquim Jorge questionou Maria de Belém de modo a que esta explicitasse o que  o PS tenciona fazer de alternativo e se António José Seguro tem o perfil para liderar um governo. A plateia inundou de perguntas semelhantes e sugestões a Maria de Belém.
Sobre as alternativas a este garrote autista que o atual governo impôs ao país, Maria de Belém contrapôs a renegociação das condições a que Portugal está obrigado, exemplificando as condições da Irlanda, com défice de 8.5% este ano e com o resultado das privatizações a serem aplicados na economia para que esta cresça, ao contrário do que Portugal terá de fazer: abater à dívida e com isso a aniquilar qualquer hipótese de recuperação económica e agravamento do drama do desemprego.

Na insistência da plateia sobre as responsabilidades do PS, Maria de Belém defendeu o seu partido e Sócrates, jogando a responsabilidade para o sistema e Europa, onde vários países se debatem com o mesmo problema. Branqueou um pouco o peso de Sócrates nesta crise, que me pareceu demasiado generoso. Neste aspeto, aliás, concordando que não se pode honestamente imputar todas as culpas a Sócrates, porque é um conjunto de circunstâncias e de políticas erradas da UE e de governos portugueses anteriores que levou a este descalabro. No entanto, parece que o problema da governação Sócrates, em minha opinião, não é só nas consequências desastrosas, mas na forma como governou e se comportou perante o país, cuja credibilidade está ao nível de um Miguel Relvas.

Ainda sobre o contributo do PS, Maria de Belém Roseira referiu as propostas alternativas do seu partido, como o banco de fomento à economia, a renegociação do prazo e condições da dívida, cortes seletivos, entre outras, que não têm tido repercussão na imprensa, dando a ideia que o partido não as tem apresentado. Salientou que não é um processo fácil, pois vai exigir sacrifícios e austeridade, no entanto compatível com a capacidade de suporte do país, mas com um fim objetivamente melhor que o atual modelo de definhamento. Garantiu que a continuar assim o país estará pior daqui a um ano.

Joaquim Jorge está de parabéns pela excelente escolha e momento para o debate. O CdP está a cumprir com o seu papel cívico e dinamizador do debate. A este respeito JJ salientou que não é necessariamente obrigatório que em resultado de tanto debate se chegue a uma conclusão e se emita uma nota, mas a mais-valia que é o debate na consciencialização dos cidadãos, que melhor informados são mais difíceis de serem manipulados. Parabéns JJ, e venha o próximo debate.



Mário Russo