Eu tenho muita dificuldade em
compreender o que se passa em Portugal no campo da política. E gostava que os
portugueses, que por toda a parte clamam que vivemos em democracia, me
dissessem quais são, para essas pessoas, as características principais que um
sistema político tem de possuir para ser considerado democrático.
Eu vivi uma boa parte da minha
vida na anterior ditadura, que sempre combati, pois não gosto de tais sistemas.
Nunca me juntei à chamada "oposição", uma amálgama de pessoas com as
mais diversas opiniões e credos, cujo único ponto de contacto era... oposição
ao que havia. Mas nenhuma coerência em relação ao que viria depois. Incluía
todos os sectores da esquerda à direita, onde o grupo mais activo e bem
organizado era o partido comunista.
Muitos deles diziam que "é
preciso mudar isto" e, quando eu acrescentava "para melhor",
insistiam que "o que é preciso é mudar", o que me arrepiava, pois eu
sabia que era possível ter pior.
No seu artigo no LE de 20-9-2012, Ventura
Trindade fala da "nossa democracia". Gostava que me dissesse quais
são as características que, como digo no início, considera serem as mais
importantes para um sistema ser considerado democrático.
O que eu sempre considerei ser
importante, no antigamente como agora, é a liberdade de elegermos quem
quisermos para dirigir os destinos do país. Isso é o que a palavra democracia
significa, o poder residir no povo e não numa pessoa ou num restrito grupo de
pessoas. Tal liberdade não existia na anterior ditadura. Mas como agora também
não existe, há que concluir que estamos em ditadura. Um sistema em que os
cidadãos não se podem candidatar a deputados e, quando votam, só têm
"licença" de escolher uma de meia dúzia de listas (com ordem fixa)
feitas ditatorialmente por outras tantas pessoa, é ditadura em qualquer parte
do mundo, menos em Portugal.
Nunca tencionei candidatar-me a
deputado, mas não tolero não ter esse direito. E, quando voto, para escolher a
"menos pior" das péssimas listas que me apresentam, sinto a mesma
frustração do antigamente.
Considerando que a outra ditadura
nunca causou aos portugueses uma tão grande degradação no seu nível de vida,
nem atirou o país para uma tão baixa situação - até o tirou duma situação muito
semelhante à actual - tenho de concluir que esta ditadura é pior que a outra.
Quanto à pergunta que os espanhóis
fizeram a Ventura Trindade, "Que opinião nos podes dar sobre a experiência
democrática que vocês portugueses estão a viver desde o 25 de Abril?" a
resposta que considero correcta seria: "não estamos". Explicar porque
Portugal nunca esteve em democracia já não cabe neste artigo e talvez fique
para outro. Mas fico a pensar se Ventura Trindade já se esqueceu que, no início,
quem tudo mandava era o MFA (ditadura militar), que em breve, com a subida de
Vasco Gonçalves ao poder, se tornou uma ditadura militar comunista (que
espezinhou todas as belas promessas do que Spínola leu na madrugada de 26), que
foi eleita, sem os cidadãos se poderem candidatar, uma Assembleia Constituinte
que levou um ano para elaborar uma Constituição que não dá aos portugueses
liberdade de escolherem os seus governantes, Constituição que foi imposta ao
povo sem plebiscito (pois sabiam que seria reprovada), o que, em tempos
actuais, não é admissível e lhe dá pés de barro.
Gostava que me mostrassem em que é
que eu estou errado.
Miguel Mota