Mário Nogueira passou no exame do Clube dos Pensadores com distinção
O Clube dos Pensadores, a convite de Joaquim Jorge, recebeu
Mário Nogueira, o líder da Fenprof, que congrega cerca de 65% dos professores
sindicalizados de Portugal, para um debate sobre a educação.
Foi uma agradável surpresa a prestação de Mário Nogueira,
pela forma como comunica com a plateia e expõe as suas ideias, respeitando a
diversidade, para além de uma espontaneidade e simpatia na forma como o faz.
Numa época em que o sistema educativo está novamente em
reboliço com uma reforma, muito típica de todo o ministro da educação que
assume um governo, que quer deixar a sua marca, a que MN disse deixar a sua
impressão digital, que em muitos casos não passa de uma nódoa no tecido
educativo.
Sobre a falácia do excesso de professores referiu que só há
excesso porque o Ministério aumentou o número de alunos por turma, alegando que
é uma forma de racionalizar o sistema. Afinal são mais 4 alunos apenas. Só que
se é fácil gerir uma turma de 30 no ensino superior, o mesmo não acontece com
crianças ou jovens na base da sua formação e que é imperioso dedicar tempo a
cada um deles. Mais de 24 alunos por turma é um desastre anunciado.
Igualmente a extinção de várias disciplinas e áreas
educativas não passa de uma medida economicista de curto alcance cuja
consequência é a expulsão de milhares de professores do sistema e o prejuízo
dos alunos. Um ensino que vota a arte a marginal do sistema é um ensino
criminoso.
Como pode um professor preparar as suas aulas e estar na
vanguarda do conhecimento se tem de dar 22 horas de aulas?
Um país não pode ter futuro sem uma educação de qualidade.
De que valem as escolas se não têm as condições mínimas para se trabalhar? Onde falta giz, papel higiénico, tinteiros e pessoal
auxiliar? Como se pode ser competitivo sem formação adequada e sem professores
estimulados e prestigiados?
Por outro lado, se há capacidade educativa instalada, porque
não é aproveitada para a formação de formadores nos PALOP? Apenas porque não há
estratégia nacional que, ainda beneficiaria economicamente o país ao
estabelecer-se a relação de dependência saudável entre os estados.
Nogueira lembrou as lutas com a ex-ministra Lurdes Rodrigues
e a sua desastrada intervenção contra os professores e a sua avaliação
esdrúxula e como foi derrotada na rua. Lembra que hoje é igualmente necessário
lutar para evitar a destruição da escola pública em favor dos operadores
privados, que recebiam em 2009 cerca de 500M de euros do Estado e que hoje se
não sabe pelo secretismo imposto desde essa época pela mão do anterior governo
e que este imita bem.
Mário Nogueira falou da decisão de criar uma nova orientação
vocacional para alunos do 5º ano (excessivamente precoce) que estejam fora do
sistema. Com uma vertente profissional, mas cujo retorno ao sistema científico
é difícil, podendo resultar na marginalização desses alunos e no estigma desta
via, como um castigo para os repetentes, quando o que precisam é de apoio extra
que só os ricos podem dispensar com explicações.
Desmontou algumas das ideias feitas e respondeu às questões
da plateia que prestigiou a sessão.
Parabéns a JJ e ao convidado que proporcionaram um debate de
bom nível numa noite bem passada.
Mário Russo