14/09/2012

Economia e Finanças

Não é preciso ser especialista de economia para ver alguns erros elementares que têm sido cometidos em Portugal neste domínio.
Quando à maior parte duma população já com um poder de compra relativamente baixo, se reduz brutalmente esse poder de compra, os resultados são indubitavelmente funestos para a economia e as finanças do país.
A redução do poder de compra foi, no caso português, resultado de três causas: aumento enorme dos impostos, redução dos salários ou a sua estagnação ou aumentos inferiores à inflação e extinção de serviços públicos, para obrigar a pagar a privados. Vejamos as consequências.
Os casos mais graves são os dos cidadãos cujos proventos apenas chegavam, sem folga, para os compromissos assumidos. Além da alimentação e vestuário, era grande encargo o empréstimo para a compra da casa. Um corte enorme nesse orçamento levou à incapacidade de pagar a prestação e, como a casa era a garantia do empréstimo... ficaram sem ela. Compreende-se o que isso causa na degradação duma qualidade de vida que já não era famosa. Numa tentativa de apagar os erros, apregoam que os portugueses se endividaram estouvadamente e estavam a viver acima das suas possibilidades. Não estavam, até lhes reduzirem drasticamente essas possibilidades. De 2005 até agora a redução do poder de compra, resultado das acções referidas não deve ter sido inferior a 50%.
A distribuição da carga fiscal mostra várias distorções, agravando o grupo dos de menos proventos. Em vez de assentar principalmente nos impostos directos, como o IRS, com o princípio de moral social em que quem tem mais paga uma taxa mais alta, sobrecarregam brutalmente os indirectos, como o IVA, em que ricos e pobres pagam a mesma taxa. Como já assinalei - mas os portugueses aceitam isso sem exigir alteração - a moralidade social acima referida, em relação ao IRS, tem um limite, não muito alto. Daí para cima desaparece.
A grande quebra no poder de compra da maior parte da população levou a uma grande diminuição no consumo. Essa diminuição tem como resultado o facto de muitas empresas, não podendo vender os seus produtos, começarem por despedir empregados e, em último caso, falirem. Uma consequência disso é uma drástica diminuição da matéria colectável, tanto dos seus antigos empregados como das empresas que desapareceram. Outra consequência é o aumento enorme dos encargos com os desempregados, cujo número mais que duplicou desde 2005, sendo já superior a 15%. Estes males, em reacção em cadeia, vão sendo cada vez mais graves. Pelos vistos, vão continuar.
Ao mesmo tempo, o governo muito pouco faz para aumentar o PIB, que só cresceu um pouco acima da média europeia no tempo do Primeiro Ministro Cavaco Silva. Com Guterres passou a crescer menos do que a média europeia e, com Sócrates, passou a diminuir, ou seja, entrámos em recessão. Como o défice orçamental e a dívida são expressos em função do PIB, quanto mais este desce, mais eles são agravados.
Não se vislumbram indícios desta reacção em cadeia terminar. Os portugueses só acreditarão na competência dos seus governantes quando o seu poder de compra subir significativamente. Quando, ou se, os portugueses tiverem um governo competente, ele vai ter um trabalho imenso a recuperar das destruições e delapidações destes últimos anos.

 Miguel Mota