31/08/2012

Eleições em Angola

Nesta sexta-feira realizam-se eleições gerais em Angola que levará à formação de um novo Parlamento e à eleição do Presidente da República. São eleições importantes para a consolidação da democracia em Angola e a manutenção da paz, que se experimenta há 10 anos e que tem permitido, finalmente, que o país se tenha vindo a desenvolver economicamente com reflexos na sociedade e no bem-estar de milhões de angolanas, pese embora as desigualdades ainda reinantes.

Estive recentemente em Angola e constatei, não apenas em Luanda, mas em outras cidades importantes, uma grande mobilização dos vários partidos, cujas caravanas ordeiramente faziam as suas arruadas. A imprensa noticiou os movimentos dos vários partidos e a TV estatal, normalmente a noticiar apenas as movimentações do partido no governo, a noticiar e a fazer reportagem junto dos diversos partidos concorrentes. Um exemplo para África, à semelhança do que já nos habituou Cabo Verde.

As únicas notas dissonantes que encontrei foram o eco que alguns redutos saudosistas de Savimbi em Portugal, um líder sanguinário que manteve por mais de duas décadas uma guerra sem sentido entre irmãos, vêm a terreiro alimentar e instigar o líder da Unita, Isaias Samakuva ou o líder do CASA-CE, aglomerado de partidos dissidentes da Unita, a bramir a bandeira da fraude nestas eleições, para desvalorizar a previsível vitória do MPLA. Redutos instalados em Portugal e alimentados por uma imprensa que vai dando guarida a esse tipo de notícia.

Na verdade o que se constata nas ruas é uma total liberdade e civismo das pessoas. A TV pública angolana dá mais notícias do MPLA, é um facto, mas tal é compreensível, pois além dos tempos de antena, como os outros têm, há notícias relacionadas com a atividade governativa, com inaugurações de imensas infraestruturas entretanto concluídas. Situação normal em qualquer país, em que o partido do governo aproveita para mostrar o que fez no mandato e, também, a normal acusação da oposição de aproveitamento político.
Este caso não pode, de modo algum, pôr em causa os avanços que aquele país tem feito rumo à normalização democrática e à liberdade de ação de pessoas e dos partidos e do país.

Estão criadas condições para que tal consolidação continue, e se a UNITA tiver juízo, fará o seu percurso em paz e uma oposição responsável e não como até aqui, apenas aproveitando as benesses que o estatuto de deputado lhes têm granjeado.
Aos portugueses, penso que não há qualquer vantagem em apoiar grupos ávidos em criar condições de instabilidade naquele país. Devem manter a sua neutralidade.
A imprensa portuguesa deve ter uma postura de Estado, não alimentando saudosistas reacionários, ressabiados com perdas passadas, julgando que assim conseguem recuperar o que perderam, numa pura ilusão e profundo desconhecimento da realidade atual de Angola.
Angola, e o seu povo, estão de parabéns pelo comportamento exemplar, até ao momento, no decurso do período de campanha eleitoral que tem percorrido o país de lés-a-lés.

Mário Russo

*escrito novo AO