Foi uma semana atribulada na aldeia com uma entorse no pé e com mãe idosa que ocupava o televisor todas as noites depois de jantar para assistir, durante 2 horas e meia mais os intervalos de longa duração, a 3 telenovelas da TVI, com nomes sugestivos: Louco Amor, Doce Tentação e Remédio Santo.
Não vou criticar o conteúdo das telenovelas, mas não posso deixar de realçar algumas curiosidades: em todas elas, embora as cenas decorram na atualidade, vêem-se empregadas internas fardadas a servir à mesa, governantas e au pairs, à moda dos “bons velhos tempos”. Em todas elas aparecem umas senhoras mais velhas a falar com um sotaque supostamente de “gente fina” e outras pessoas mais novas que falam entredentes sem qualquer movimento das comissuras labiais, supostamente representantes da mesma classe.
Recordo-me, porque achei imensa graça, que o Herman José distinguiu a origem social dos intérpretes do fado da seguinte forma: os do povo abrem bem a boca para cantar e os de origem aristocrática cantam de boca quase fechada.
Manuela Vaz Velho
*novo AO