Maria da Graça Carvalho publicou no Diário de Notícias de 21-3-2012 um artigo em que fala da enorme importância da investigação científica, o que eu aplaudo. Refere depois o que o governo de Durão Barroso programou e que foi executado pelos governos seguintes. Diz "Mas este resultado, em si próprio positivo, não teve o impacto desejado na economia".
"Esqueceu-se" de dizer que, paralelamente com essa melhoria, continuou em vigor a criminosa "lei", não escrita mas religiosamente seguida, que manda destruir toda a investigação científica estatal que não seja das universidades, cujas acções causaram ao país um enorme prejuízo, tanto do ponto de vista da ciência como do que os organismos em causa deram à economia nacional. Esses organismos estão hoje reduzidos a uma pequena fracção do que eram e o "know how" que resta é muito menos do que existia - e tanto produziu! - em resultado da destruição que sofreram. Posso referir três (há mais outros), dois dos quais conheço bem e do terceiro alguma coisa: a Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, a Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, em Elvas e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa.
Estas instituições, antes de se iniciar o processo de destruição, além de produzirem boa ciência, deram ao país uma contribuição económica muito valiosa. Nos de investigação agronómica a destruição foi maior porque aí somaram-se dois males: ao facto de serem investigação estatal fora das universidades, juntou-se o processo de destruição da agricultura portuguesa, em curso há umas duas décadas.
Esta última destruição foi travada pelo governo actual que, no entanto, ainda não iniciou os procedimentos que há muito clamo serem necessários para desenvolver uma agricultura geralmente atrasada, onde existem apenas em escasso número os casos de excelência - e bons resultados económicos, incluindo para a exportação - que, aliás, são a melhor prova do que pode ser a agricultura portuguesa. E o desenvolvimento da agricultura só se verificará quando o seu Ministério voltar a ter as suas instituições de investigação agronómica, para começar, como eram há várias décadas e depois um pouco melhores, pois são a única fonte da tão badalada inovação, uma palavra que os nossos políticos só começaram a usar quando nalguns países se começou a falar de "innovation".
Ao mesmo tempo, é necessário um serviço que hoje no mundo se chama de Extensão Agrícola ou Extensão Rural, do nome com que foi criado nos Estados Unidos em 1914 e cuja função é levar até aos agricultores os conhecimentos que existem e os que a investigação considere prontos, de que eles tanto carecem. (Eu gostaria de lhe chamar de Fomento Agrícola que, automaticamente é Fomento Rural,pois só desenvolvendo a agricultura poderemos desenvolver as zonas rurais).
Há muitos anos proponho que, para desenvolver a nossa agricultura, o Ministério inicie um Plano Intensivo de Investigação Agronómica e de Extensão Rural, para, como também já escrevi, transformar o déficit de 3 mil milhões de euros da nossa balança de produtos agrícolas (exportamos 3 mil milhões de euros, mas importamos 6 mil milhões de euros) num superavit de 3 mil milhões de euros. O actual governo poderia ter iniciado esse Plano Intensivo, mesmo com a estrutura que existia (recentemente um tanto melhorada) e com o paupérrimo orçamento de que dispõe. Talvez já estivesse a sentir alguma melhoria e a colher alguns pequenos resultados, dum processo que é difícil que seja de rápida progressão.
E há que considerar que, como mais uma vez mostrei, há poucos meses, os resultados desses dois serviços, investigação agronómica e extensão rural, são de tal ordem que o próprio orçamento do estado recolhe, em impostos sobre as melhorias obtidas, mais dinheiro do que o que neles investiu. Sem dispor de valores numéricos (há muito preconizei a sua recolha mas nunca a quiseram implementar) posso lembrar um caso recente bem conhecido dos portugueses: a uva 'D.Maria', essa excelente uva de mesa branca de grandes bagos e excelente sabor,
"fabricada" na Estação Agronómica, em Oeiras, deve estar a dar ao país, todos os anos, mais do que o pouco dinheiro que o estado investe no organismo.
Miguel Mota