30/03/2012

“SENTA-TE MEU DINHEIRO”

1.Há muitos anos perto da minha terra de naturalidade – Estremoz/Fronteira - havia um grande lavrador, a que, ao tempo, se chamava “latifundiário”, mais conhecido “por Descalço”, dado a maneira como vestia e se apresentava, parecendo mais um “boieiro” aquilo que se chama no Alentejo “o homem que trata dos bois.
2. Era um homem simples, com uma filosofia própria da vida, mas com uma fortuna incalculável. Só em cortiça ultrapassava os “comendadores” dos nossos tempos.
3. Sobre ele contavam-se histórias que nos poderá servir de lição e de exemplo para meditar sobre a sensibilidade de algumas pessoas e dos insensíveis grandes grupos económicos que nos governaram e nos governam.
4.Num belo dia deslocou-se a Lisboa e entrou numa conhecida “Casa de Fados”frequentada pela alta elite de Lisboa e tendo chegado um pouco mais cedo, “pela maneira como vestia e o aspecto que apresentava”, o mâitre dirigiu-se-lhe dizendo que, com certeza, se teria enganado no local, sem antes ter avisado previamente a Polícia, para àquilo que desse e viesse.
5. O “Descalço” na sua simplicidade e grandeza de alma pediu ao “mâitre” se tinha um Dom Pérignom que na altura custava a “módica” quantia de “7.500 contos”.
6. O “maitre” renitente e esperando sair dali um grande sarilho, perante o espanto do mesmo, o “Descalço” mandou abrir a garrafa, lavou as mãos sobre os pratos, limpou-as com o guardanapo, pagou e saiu, proferindo a frase “ SENTA-TE MEU DINHEIRO”.
7. Vem isto a propósito dos actuais “senhores da guerra” - refiro-me a um senhor – mais concretamente ao Sr. Catroga, cujo “Expresso” desta semana, faz referência, a página 33, como um individuo, que dizia há meses, que o sector da energia tinha rendas excessivas; agora, diz que está tudo bem, coitadinha da “EDP”.
8. Com o maior desassombro tive oportunidade de ouvir, num dos meios de comunicação social, tanto o Sr. Catroga como o Sr. Mexia tentaram justificar com os “magros salários e prémios” que recebem ou vão receber, sob a alçada generosa dos accionistas da EDP. Só que esqueceram-se de dizer que quem paga aos accionistas os dividendos, é a classe média e pobre da sociedade que temos. E não toco nas empresas…
9. Ao analisar a declaração sobre política de remunerações dos membros do Conselho de Administração Executivo da EDP – indicadores de desempenho anual e plurianual – já presente ou a apresentar aos accionistas, mais uma vez é caso para dizer: O Estado, no momento presente, como no passado continua a criar “milionários” e a contribuir para uma, cada vez maior, desigualdade entre os cidadãos, mantendo, na prática, um monopólio, sobre o cidadão, do qual não pode fugir, impondo preços políticos e ocultando o grande passivo e as grandes obras megalómanas de que a imprensa vem fazendo eco diariamente.
10.Pergunto-me: até quando? E, no final, não resisto à tentação de voltar a dizer: “SENTA-TE MEU DINHEIRO”.


António Augusto Ramos Calhau
     Mestre em Direito