09/02/2012

O fim de alguns feriados

Não querendo entrar pelo lado economicista da questão, até porque segundo os entendidos o maior problema que se coloca com os feriados são as pontes quando eles acontecem às terças ou às quintas-feiras, e assim eles deveriam ser encostados ao fim-de-semana, vou questionar a escolha dos feriados a abolir. Fico espantada com a abolição de feriados que representam a restauração da nossa Independência enquanto país (o mais antigo da Europa em termos de fronteiras), o 1º de Dezembro, e a implantação da democracia que foi a República a 5 de Outubro. Ouço que Igreja Católica também vai nesta onda economicista abolir dois feriados, o de 15 de Agosto e o móvel do corpo de Deus, por alguns considerados menores.

Assumindo que temos que abolir alguns feriados, os primeiros a abolir deveriam ser os católicos. Não entendo como num país democrático em que o estado e a igreja estão separados se festejem feriados associados a uma só Igreja. Falo do 8 de Dezembro, dia da Nossa Senhora da Conceição que só faz sentido para a Igreja Católica mas nem sequer o faz para outras igrejas cristãs como a anglicana, evangelista, luterana, baptista, metodista, etc.

E o dia de Todos os Santos também, porque a homenagem aos finados (que até deveria ser no dia seguinte) com as romarias aos cemitérios, poderia ser feita no domingo mais próximo e também porque quase todos os santos já são homenageados nos feriados municipais. E j
á nem falo das outras opções religiosas não cristãs cujos feriados não são festejados no nosso país mesmo que já existam comunidades com alguma expressão em alguns locais podendo até ser considerado por esse facto um feriado municipal em datas que para eles são importantes do ponto de vista das suas convicções religiosas.

Não questiono o Natal que já transcendeu as fronteiras religiosas e é quase uma data universal, mesmo em países com maiorias religiosas não cristãs. Também não questiono a Páscoa, mas se esta é festejada num domingo não haveria necessidade de a sexta-feira anterior ser feriado.
O argumento da tradição cultural, quando se trata de evitar abolir feriados religiosos, porque a maioria da população é católica, não me parece ser válido porque à maioria da população portuguesa se lhes for perguntado porque é que é feriado a 8 de Dezembro, a 15 de Agosto ou acerca do móvel de Junho não sabem. Nem sabem porque é móvel o dia de Carnaval ou o de Páscoa, muito embora festejem esses dias.
Natal e Páscoa são pilares da cristandade e aí até admito falar de tradição num país de maioria cristã.

E falando em tradição eu continuo a ir todos os anos apanhar o musgo para fazer o presépio, a fazer as fornadas de folares da Páscoa para se dar aos afilhados e à família e a ir ao cemitério no dia 1 de Novembro e, mesmo assim, acho que a abolir feriados, o que pode ser discutível, os primeiros a abolir deveriam ser os feriados religiosos e não os civis que fazem parte da nossa história e da nossa soberania, estas comuns a todos os portugueses independentemente do seu credo, e da nossa auto-estima, que ultimamente anda pela rua da amargura.



Manuela Vaz Velho