O primeiro debate no novo espaço do Hotel Holiday Inn de Gaia, não poderia ter começado mais quente do que com a presença do Prof. Doutor Garcia Pereira, “porque não é só o Marcelo que é”, como disse Joaquim Jorge.
Como habitualmente o anfitrião do CdP, JJ, fez a apresentação do convidado e enalteceu a sua postura na sociedade portuguesa como combatente contra a indiferença e a injustiça.
Garcia Pereira iniciou a sua reflexão, pedindo um aplauso a Joaquim Jorge pelo trabalho tenaz que tem feito ao longo dos 6 anos à frente do CdP, que deve continuar pelo serviço que presta ao país.
O convidado começou por fazer uma abordagem do estado da nação, tendo em conta os dados revelados pelo INE, que escalpelizou-os para concluir que o número de pessoas desempregadas é, na verdade, sem eufemismos, de mais de 22%. Destes cerca de 35% são jovens que não vêm futuro neste país.
Portugal caminha para um abismo, porque o remédio apontado é o de pôr os portugueses a pagar a crise com impostos sobre impostos, cortes e confiscos. Mas que portugueses? Os de sempre, os trabalhadores. O governo que aceita tudo o que a troika impõe, não belisca as PPP, verdadeira rede de drenagem de recursos públicos, porque os beneficiários são meia dúzia de empresas que emprega ao mais alto nível os políticos que prepararam as referidas armadilhas.
Questionou porque uma dívida odiosa é paga por um povo que trabalha, à custa do desemprego de ¼ dessa população? Porque é vendida como fatal para se sair da crise.
Garcia Pereira disse que mais importante que um diagnóstico da situação atual, é analisar como se chegou aqui? E apontou os erros cometidos logo que o país aderiu à CEE, que preferiu receber dinheiro para destruir o seu sistema produtivo. O setor primário e secundário, produtor de bens transacionáveis, agora chamados a responder (tarde) foi aniquilado. As pescas foram afundadas, a agricultura fica melhor em França e Holanda. A indústria pesada tem melhor clima na Alemanha, e assim por diante. De tal modo que hoje Portugal depende em 80% do exterior para viver.
Nestas condições, disse o convidado, não há país, nem economia que se possa salvar. E qual a receita para se sair da crise? A do governo já se sabe, que é cada vez mais austeridade, que leva ao empobrecimento, quebra das receitas, seguidas de mais impostos, até aniquilar de vez com o país, aliado à venda indiscriminada das joias da coroa a preço de saldo, sem estratégia nenhuma e até de traição à pátria, como é o caso da energia, das telecomunicações e da TAP, uma companhia de bandeira que poderá passar a ser um entreposto de passagem para algumas rotas. Classificou de crime de lesa pátria, que concordo completamente.
Mas Garcia Pereira não disse apenas o que estava mal, na sua opinião, lançou um verdadeiro programa ou manifesto contra a venda do país e de como sair da crise, porque com este governo é impossível. Em primeiro lugar, derrubar o governo, traidor dos interesses da pátria, antes que ele afunde ainda mais o debilitado país que é de todos os portugueses. Em segundo lugar, decretar o não pagamento da dívida, denunciando a sua classificação de odiosa, não contraída em benefício do povo português, mas de meia dúzia de agiotas da alta finança e políticos sem escrúpulos.
Depois nacionalização dos setores estratégicos, como a banca, energia, transportes e telecomunicações. Modernização dos setores destruídos. Construção de portos atlânticos de norte a sul, ligados por ferrovia de bitola europeia com ligação em T a Espanha, por onde é estratégico para Portugal, e não pelo centralismo de Madrid.
Dinamizar a construção naval para que as ligações do oriente, via novo canal do Panamá, a partir de 2013, pelos mega cargueiros, seja depois realizada por cabotagem na costa europeia e com ela alimentar uma industria naval de construção e reparação de embarcações.
Seguiu-se um debate animado com muitas perguntas, todas girando à volta do que dissertou, realçando que o povo português está à mercê de um governo que não respeita a lei, nem a constituição, mas que não pode contar co o designado Tribunal Constitucional, porque não passa de um colegiado de 13 comissários políticos travestidos de juízes, que não estão para defender a constituição, mas para advogar a favor do governo e de todas as ilegalidades que têm cometido ao arrepio do de um Estado de Direito. O confisco de salários aos funcionários públicos é apenas um exemplo gritante de uma inconstitucionalidade acobertada por cobardes defensores de que os meios justificam os fins. E recordou que quem assim perfilhava foi um tal de Hitler e Goebels.
Por estas razões, diz Garcia Pereira, só com um derrube do governo, pode o povo português sair da profunda crise em que está metido e que ainda não se fez sentir na sua plenitude.
Deu exemplos de países sufocados pela agiotagem internacional, que deram o seu “Grito do Ipiranga”, como a Argentina, que após o abismo, disse basta e é hoje o 20º mais rico. O Equador, também disse “chega” de dívida odiosa, pagando o que achava que deveria pagar e não o que queriam. E, finalmente a Islândia, que meteu na cadeia os políticos que levaram o país para a ruína, e que Portugal deveria imitar.
Empolgado e apaixonado pelo que faz, com uma sala a abarrotar, Garcia Pereira inaugurou o ciclo de debates no novo espaço, com muita força e com ideias claras de como sair da crise. Parabéns ao JJ, que teve a sagaz ideia de nesta altura propícia convidar alguém que não é do establishment e a Garcia Pereira pela sua conhecida garra com que defende as suas ideias.
28/02/2012
Garcia Pereira lança Manifesto no Clube dos Pensadores
Mário Russo