11/11/2011

Hipocrisia


Um dos comportamentos a que sou alérgico é a hipocrisia. Assim, compreende-se a minha reacção perante os casos que vi, ouvi e li, em que pessoas com responsabilidades pretendiam "justificar" os cortes dos vencimentos e pensões do 13º e 14º meses alegando que, em muitos países da União Europeia eles não existem. Esses hipócritas pensavam talvez que os portugueses não sabiam que, na UE, só os países que vieram da miséria comunista ganham, anualmente, menos que os portugueses. Até na Grécia, em estado económico e financeiro ainda mais desgraçado do que aquele em que o PS afundou Portugal, o salário médio anual é mais de 50% superior ao dos portugueses. A escala dos valores médios do salário anual é em vários países duas ou três vezes o dos portugueses.
Para agravar o mal, deve acrescentar-se que o leque salarial português é superior ao desses países de tal forma que, se se fizer a média dos 20% com os salários mais altos e a dos restantes 80%, se verá como estes estão ainda mais abaixo na escala da Europa. Em vez de cortar cerce todos aqueles casos aberrantes (e que a internet e o seu correio electrónico divulgam todos os dias), o governo, que era suposto vir corrigir a escandaleira criada pelo PS, está a seguir um caminho muito semelhante. Ou seja, está a preparar tudo para ser corrido nas próximas eleições e abrir a porta a quem tanto mal já fez a Portugal.
Há muitos anos publiquei num jornal diário um artigo intitulado "A melhor propaganda eleitoral". Mostrei, até com alguns bons exemplos, que muito mais do que discursos inflamados e bandeirinhas a serem freneticamente agitadas (algo muito bom para convencer os que já estão convencidos), o que constitui a melhor propaganda eleitoral é o que alguém fez de bom, quando esteve no poder. Se o governo actual quiser ser reeleito em próximas eleições, terá que mudar drasticamente o que nestes pontos tem feito e no que promete para os próximos anos.

Miguel Mota