Escrevo sob a emoção de ter chegado de acompanhar à sua última morada um grande amigo meu, o padre jesuíta Prof. Luís Peixoto Archer, falecido ontem, 8 de Outubro de 2011. O Prof. Luís Archer licenciou-se em Biologia na Universidade do Porto com alta classificação. Mas pouco depois decidiu seguir a carreira eclesiástica, licenciou-se em Filosofia e em Teologia e, ordenado padre, ingressou na Companhia de Jesus. Anos mais tarde, quando se encontrava a leccionar no Colégio de Santo Tirso, os seus superiores decidiram que voltasse à universidade.
Foi aí que o encontrei, pelos fins de 1963 ou princípios de 1964, como Assistente, então a trabalhar na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Algum tempo depois foi para os Estados Unidos, onde em 1967 fez o doutoramento num sector da Genética que, embora não desconhecido dos portugueses, não tinha ninguém a trabalhar nessecampo: a Genética Molecular. (Eu próprio, depois dum Colóquio na Estação Agronómica, para fazer o ponto, para os colegas de outras especialidades, das últimas descobertas nesse campo, publiquei, em 1964, no primeiro número dum jornal de divulgação científica de efémera duração, um artigo intitulado "A base molecular da hereditariedade". Nesse artigo descrevi as novas descobertas, que se iniciaram em 1953 com a descoberta da estrutura molecular do DNA e que culminaram com a completa
decifração do Código Genético). Regressado dos Estados Unidos com o seu doutoramento e com um forte apoio da Fundação Gulbenkian, realizou diversos cursos dessa matéria e instalou na Fundação um Laboratório de Genética Molecular. O trabalho desenvolvido foi de grande projecção internacional e foram numerosos os prémios e outras honrarias que recebeu. Com a sua inteligência fulgurante e a sua prodigiosa memória, entrava a fundo em tudo o que fazia, como constatei várias vezes. Foi o padrinho no meu doutoramento Honoris causa e no seu discurso relatou factos e ocorrências de que mal me lembrava. Na fase final, mais do que a Genética - de que me dizia já estar afastado - dedicou-se aos problemas da Bioética, tendo sido o primeiro Presidente da respectiva Comissão Nacional.
Teve alguns sérios problemas de saúde. Nas vésperas da homenagem que lhe estava preparada em Vila Real, durante as Jornadas Portuguesas de Genética, pela Sociedade Portuguesa de Genética, então sob a minha Presidência, não pôde estar presente por motivo duma grande cirurgia, a um aneurisma na aorta abdominal. Recompôs-se bastante bem e, embora com alguns outros problemas, continuava com grande actividade e foi uma surpresa o seu falecimento. Dele se esperava ainda muito, mas o destino assim não quis. Eu perdi um Amigo. O país perdeu um cientista de alto nível.
Miguel Mota