09/09/2011

Profissão: PENSADOR



Ninguém consegue modificar o estado de coisas a que chegamos. Talvez o pudéssemos fazer, seguindo uma racionalização de serviços, com o fim de mais produzir e menos desperdiçar. Talvez até, dessa maneira, se diminuísse a corrupção e se botassem para trabalhar numa cadeia, aqueles que, abusando do poder, enriquecem à custa do imposto pago por um cidadão desde que se levanta até à hora de deitar. Isto fez-me lembrar um ato de Henry Ford, que teria sido o primeiro a inventar a profissão de “pensador”. Ford, ao passar certa vez pelos escritórios da empresa, quedou-se a observar um funcionário em grande actividade e à volta com uma enormidade de papéis sobre a mesa de trabalho. Ford procurou saber o motivo de toda aquela azáfama; depois de uma boa conversa, deu-lhe instruções no sentido de procurar os auxiliares necessários à realização das suas tarefas, livrando-se de todo aquele serviço. A partir daquele momento a sua função seria a de pensar. Deveria pensar em novos métodos e fórmulas para a realização de melhores negócios e obtenção de mais lucros. Suponho não ter sido esta a exacta versão mas, do mais ou menos, a moral da história é o facto de Ford ter achado no subalterno a capacidade de pensar, de ser um pensador dentro da empresa, o profissional mais difícil de encontrar. E embora se tenha constatado poder o homem, com tempo para pensar, descobrir novos caminhos e novos negócios, dar mais lucro à empresa sem ficar assoberbado com papéis, a atender chamadas telefónicas, a redigir, a ditar, a instruir, a participar de reuniões e por aí fora, até hoje ainda não foi catalogada a profissão de pensador! De conselheiro, sim...embora o empresário na hora “H” mande os conselhos às favas.
Mas Pensador! Ah, como seria bom se todas as empresas pudessem manter um Pensador: um homem capaz de diariamente exprimir e exteriorizar pensamentos de como chegar a melhorar a produção ou descobrir um meio eficiente de chegar a um outro mercado, ou criar uma embalagem mais atractiva, ou de conceber estudos para uma maior redução nos custos; enfim um criador. Um funcionário disposto a passar o tempo a passear pela empresa, pra cá e pra lá, com a “cuca” em constante funcionamento, um funcionário sempre alerta, mesmo às tantas da “matina”, levantando da cama para anotar os dados resultantes de toda uma perseguição feita durante um ou vários dias e noites, atento ao determinado momento de conseguir um “clic” no seu “humano computador” sempre pronto a fazê-lo saltar para o espaço da criação: um funcionário, que pudesse localizar as torneiras abertas da empresa e por onde se evaporava o desperdício. Eh! Pensando bem, essa de Pensador poderia ser uma boa saída para a solução dos graves problemas administrativos e de toda a ordem de vírus destruidores de tantas empresas, especialmente aquelas onde até hoje não souberam aceitar a organização racional do trabalho. Podem julgar parecer-se o Ford, nesse ponto, com um lunático; mas o homem pensava e pensava longe, e o facto é ter provado estar certo. Atestam-no as empresas seguidoras da ideia. PENSADOR. Não seria uma bela profissão? Aí fica uma sugestão para os famosos donos do “pedaço”! Pensar e criar, tentar resolver, desvendar, chegar ao caminho certo; atentar para o difícil, fugindo do comodismo e da displicência; estabelecer uma logística, só possível de ser gerada na cabeça de um Pensador. Pensar é procurar, especular, desvendar, ir cada vez mais além à procura do ideal; sofrendo, amargurando os difíceis momentos da impotência para chegar ao climax da criatividade. O Pensador é o arquitecto da realização plena, a mostrar caminhos tão inimagináveis, parecendo ter atrás de si um cérebro ainda mais poderoso. Com Pensadores profissionais, quem sabe conseguiríamos de uma vez por todas, acabar com os empecilhos herdados dos nossos antepassados, mas incompreensivelmente seguidos com persistência pela maioria dos segmentos da nossa juventude. Talvez o novo empresário pudesse chegar á conclusão de observar a empresa como empresa; não um objecto a mais a ser manipulado a seu bel-prazer, mas uma célula de ordem social em relação à qual perde o direito a qualquer vínculo pessoal capaz de, por sua natureza, poder vir a prejudicar ou destruir toda a organização humana dependente.


A. Campo Grande