16/09/2011

E ESTA, HEIN?



Quando reflito sobre os 4,5 mil milhões de anos de idade do nosso planeta, não consigo deixar de imaginar, a imensa perplexidade por que passaríamos se pudéssemos ver um filme da nossa evolução, digamos, filmado à razão de 1 quadro a cada 100 anos. Seriam 45 milhões de quadros que, posteriormente, exibidos à velocidade de 1 quadro em 3 segundos, resultariam numa projeção ininterrupta, 24 horas por dia, por mais de 4 anos! Teríamos conhecimento de como os elementos químicos existentes na primitiva atmosfera terrestre se combinaram sob a influência de poderosas descargas elétricas, da luz e energia irradiada pelo Sol para formar os primeiros aminoácidos, base da vida. Veríamos, a seguir, a formação das primeiras células e do aparecimento do processo da reprodução. Constataríamos as inúmeras vezes que a natureza tentou acender uma primeira centelha de vida sem sucesso; uma busca incessante e incansável, ano após ano, século após século, milénio após milénio, até a primeira célula viva ser capaz de se reproduzir e deixar descendentes após a sua morte, há pouco mais de 3,5 mil milhões de anos. Veríamos esses microrganismos serem carregados pelos ventos e pelas águas para sítios cuja diversidade de condições ocasionou a multiplicidade das suas formas e espécies. Comprovaríamos a ramificação da vida: uma baseada na fotossíntese e a outra na hemoglobina. O aparecimento de organismos mais complexos. Das trilobites do Paleozóico (entre 250 - 550 milhões de anos atrás) aos dinossauros do Jurássico (há aproximadamente 150 milhões de anos). Quando o filme estivesse a dois dias do seu término, (cerca de 6 milhões de anos atrás), veríamos surgir os primeiros indícios da espécie humana e como evoluiu até aos dias de hoje. Ao final, estaríamos, com toda a certeza, perplexos. Mais do que isso: estaríamos como que fulminados ao constatar que a espécie humana nada mais é que mero resultado de reações químicas bem-sucedidas, devido à teimosia da tentativa e erro da mãe natureza. Que as nossas crenças foram um erro crasso oriundo da nossa própria ignorância. Que a esperança sobre salvação e vida eterna foi mera fantasia infantil. Por saber que o nosso comportamento tem a mais perfeita lógica em não diferir do restante dos animais. Somos, como eles, predadores ou vítimas, egoístas ou generosos, insensíveis ou sensíveis e, sem sombra de dúvidas, somos instrumentalizados pela natureza na sua contínua e paciente tarefa da evolução da matéria. Já temos braços que conseguem erguer toneladas, olhos que enxergam corpos celestes à distância de milhões de anos-luz, boca e ouvidos para comunicação a grandes distâncias e pernas que nos podem levar a outros planetas em pouquíssimo tempo, entre outros inventos da espécie humana. Einstein relacionou a matéria e a energia contrariando Lavoisier que dizia que a matéria não pode ser destruída, mas apenas transformada. Einstein provou que assim como é possível criar energia a partir da matéria é possível criar matéria a partir da energia. Talvez uma das últimas etapas da nossa evolução seja, daqui a alguns segundos ou minutos de filme, abandonarmos esta matéria que se deteriora obedecendo à entropia do universo e transformarmo-nos em energia pura que possa, como disse Arthur C. Clarke, vagabundear por entre as estrelas ou afundar-se como uma neblina subtil através dos interstícios do espaço.

J. Campo Grande

*novo acordo ortográfico