"...Estou acordado quase à 40 horas. O temível som das bombas a rebentarem, ao meu lado, já quase não me afecta. Sou incapaz de ouvir algo, a não ser um zumbido ensurdecedor que me atormenta a mente. Estou nesta guerra entre mundos à 2 anos, sinto-me um privilegiado. Muitos colegas, amigos, familiares... não conseguiram sequer sobreviver dois dias, quanto mais dois anos.
Ainda ontem fui a um café com mais quatro amigos beber uma cerveja. Hoje, dois desses quatro amigos, morreram numa investida a Londres. É difícil fazer amigos, moldar amizades e esquecer mágoas. A guerra apaga memórias e gera ódios. Cria uma desunião entre os laços da amizade e fraternidade. Torna a existência um factor difícil de ser suportado. É horrível viver assim.
Hoje é o meu aniversário, 23, mais precisamente. Tenho saudades dos meus pais, do meu irmão que não tardará a vir para o meu lado, nesta macabra e sem sentido guerra e principalmente da Katharina, minha fiel namorada. Choro sempre que me lembro dela. Só quero que as minhas preces sejam escutadas e o meu desejo de a voltar a ver concretizado. Luto e peço para que ninguém viva na minha agonia, que ninguém vivencie a dor e solidão que me invadiram. Estou fraco e sem vontade de vencer. Começo a desistir e só não o faço, por completo, por causa daqueles que amo e não pelo meu país. Fartei-me dele.
Estas palavras do todo-poderoso, Adolf Hitler, ecoam na minha cabeça:
- "Acredito hoje que estou a agir de acordo com o Criador Todo-Poderoso. Ao repelir os judeus estou a lutar pelo trabalho do Senhor" [discurso de Hitler – Reichstag – 1936]
Já me passaram milhares de Judeus pelos meus olhos, muitos entraram no campo mais temível do mundo e nunca mais saíram. Ao fechar os olhos lembro-me dos seus gritos desesperantes. Tenho pena! Eu não sou humano. Sou um monstro! Sou um vassalo medroso. Quero que todo este horror acabe, depressa! Sou um dos poucos que o deseja.
Estou aqui a escrever dentro de uma pequena tenda, onde o frio regela o meu corpo, enquanto descanso e, lá fora, os companheiros impedem o avanço das tropas francesas e inglesas. Estamos com ainda mais medo agora. Ontem o império e aliado japonês atacou o nosso "inimigo" americano. A sua base do Pacífico, Pearl Harbour, ficou destruída. Já declararam o estado de guerra e não tardarão a fazer-nos frente, empurrando-nos para uma derrota iminente.
Estou cheio de dores, hoje perdi um dedo da minha mão esquerda ao ser atingido por um soldado inimigo. Consegui sobreviver ao que parecia impossível.
Fui chamado pelo meu superior neste preciso momento. Aquela grave e autoritária voz disse-me:
- Soldado, acabou o descanso, vamos! Rápido!
Vou terminar por aqui, tenho de servir a minha pátria, apesar de já não haver salvação. Até um dia..."
Ludwig - Soldado Alemão da 2ª Guerra Mundial - Nº 22100
Rui Fernandes
estudante
Ainda ontem fui a um café com mais quatro amigos beber uma cerveja. Hoje, dois desses quatro amigos, morreram numa investida a Londres. É difícil fazer amigos, moldar amizades e esquecer mágoas. A guerra apaga memórias e gera ódios. Cria uma desunião entre os laços da amizade e fraternidade. Torna a existência um factor difícil de ser suportado. É horrível viver assim.
Hoje é o meu aniversário, 23, mais precisamente. Tenho saudades dos meus pais, do meu irmão que não tardará a vir para o meu lado, nesta macabra e sem sentido guerra e principalmente da Katharina, minha fiel namorada. Choro sempre que me lembro dela. Só quero que as minhas preces sejam escutadas e o meu desejo de a voltar a ver concretizado. Luto e peço para que ninguém viva na minha agonia, que ninguém vivencie a dor e solidão que me invadiram. Estou fraco e sem vontade de vencer. Começo a desistir e só não o faço, por completo, por causa daqueles que amo e não pelo meu país. Fartei-me dele.
Estas palavras do todo-poderoso, Adolf Hitler, ecoam na minha cabeça:
- "Acredito hoje que estou a agir de acordo com o Criador Todo-Poderoso. Ao repelir os judeus estou a lutar pelo trabalho do Senhor" [discurso de Hitler – Reichstag – 1936]
Já me passaram milhares de Judeus pelos meus olhos, muitos entraram no campo mais temível do mundo e nunca mais saíram. Ao fechar os olhos lembro-me dos seus gritos desesperantes. Tenho pena! Eu não sou humano. Sou um monstro! Sou um vassalo medroso. Quero que todo este horror acabe, depressa! Sou um dos poucos que o deseja.
Estou aqui a escrever dentro de uma pequena tenda, onde o frio regela o meu corpo, enquanto descanso e, lá fora, os companheiros impedem o avanço das tropas francesas e inglesas. Estamos com ainda mais medo agora. Ontem o império e aliado japonês atacou o nosso "inimigo" americano. A sua base do Pacífico, Pearl Harbour, ficou destruída. Já declararam o estado de guerra e não tardarão a fazer-nos frente, empurrando-nos para uma derrota iminente.
Estou cheio de dores, hoje perdi um dedo da minha mão esquerda ao ser atingido por um soldado inimigo. Consegui sobreviver ao que parecia impossível.
Fui chamado pelo meu superior neste preciso momento. Aquela grave e autoritária voz disse-me:
- Soldado, acabou o descanso, vamos! Rápido!
Vou terminar por aqui, tenho de servir a minha pátria, apesar de já não haver salvação. Até um dia..."
Ludwig - Soldado Alemão da 2ª Guerra Mundial - Nº 22100
Rui Fernandes
estudante