18/03/2011

Por falar em deputados...


O jornal D N e os seus jornalistas conceberam um excelente e meritório trabalho de investigação jornalístico intitulado “Grande Investigação” sobre a nossa AR.

Já antes tinham desenvolvido outro trabalho sobre o estado do Estado que, tal como este último, é de louvar.

Na verdade considero que estas investigações são o melhor contributo para o esclarecimento e informação do nosso povo. Enriquecedor do ponto de vista cívico e democrático. Contribuindo, sem dúvida, para que os cidadãos eleitores possam exercer de forma informada e conscienciosa os seus direitos/deveres cívicos e de cidadania - os quais passarão, cada vez mais, pela sua associação a movimentos cívicos e não a partidos políticos.

Tenho lido com atenção esta notável investigação jornalística, que muito prestigia este jornal de referência.

Contudo, não obstante o rigoroso, incisivo e minucioso trabalho de investigação, feito pelos qualificados colaboradores do DN, há algo que lhes parece escapar:

- A investigação em causa só incide sobre a AR, nada referindo quanto aos parlamentos regionais que, juntos, somam cerca de 130 deputados, em representação de menos de 0,5 milhão de eleitores.

- Também, ao comparar o nosso rácio de deputados com os outros países europeus, realçando que é o sexto com mais deputados, demonstram muita brandura pois, deviam evidenciar o facto de, comparado com Espanha, Estónia, Alemanha, Bélgica, Holanda e França termos mais do dobro e, até, nalguns casos o triplo de deputados por habitante.

- Deveriam, ainda, salientar que a Bélgica e a Holanda com 10,7 e 16,48 milhões de habitantes, respectivamente, têm apenas 150 deputados. Sendo que a Estónia com 13,4 milhões de habitantes só tem 130 deputados!!....

- Por fim deviam denunciar os abusos e a conduta, eticamente, reprovável de grande parte dos deputados que, transformam o Parlamento, num palco de teatro, numa farsa, onde se desenrolam, peças de teatro, trágicas, degradantes, ultrajantes e atentatórias da dignidade do povo que, supostamente, representam.

Penso que Comunicação Social devia interessar-se mais sobre a forma de mudar o paradigma politico-administrativo do país cujo sistema nos levou a este impasse onde grassa, no seio da população, o desespero, a falta de esperança e confiança num futuro melhor. É patente a falta de credibilidade, respeito e consideração por quem, em nome do povo, (se) governa. Assim, contribuindo para a formação de uma consciência mais crítica e mais esclarecida e informada dos portugueses.

Em boa verdade, a partidocracia reinante, a promiscuidade entre influentes e eleitos, o compadrio a corrupção, o amiguismo e clientelismo execrável, patente nos partidos políticos do arco do poder e nos detentores do poder local, deixam os cidadãos desconfiados, frustrados e desanimados quanto a uma mudança deste status quo, o que afasta, cada vez mais, o cidadão da participação cívica e politica, com isso empobrecendo a democracia.

Para o comum cidadão o direito de voto que lhes é concedido em eleições apenas serve - no quadro politico administrativo vigente nas últimas décadas - para legitimar, no poder, as elites partidárias reinantes e seus apaniguados, que se revezam em alternância (rotativismo), no saque e desvio dos dinheiros públicos, contribuindo, assim, para piorar o já degradado nível de vida dos cidadãos, o progresso do país ou a qualidade da nossa democracia. Pois, apenas serve para a habitual dança de cargos e lugares em que os ex-governantes, influentes ou seus apaniguados, continuam à mesa do poder, na oposição ou em empresas e instituições públicas, semi-públicas e privadas.



José Silva - Porto