12/02/2011

O Radicalismo Islâmico no Médio Oriente e no Norte de África


Os acontecimentos recentes que ocorreram no Médio Oriente são amplamente divulgados pela imprensa mundial e são naturalmente sujeitos a interpretações muito variadas. Estes acontecimentos são para todo o Sistema Internacional, mas também para o cidadão comum, já que no mundo globalizado e no Sistema Internacional actual não só os indivíduos podem ser actores das Relações Internacionais como também podem sentir directamente os efeitos de perturbações ao próprio sistema.
Estes desenvolvimentos no Norte de África e no Médio Oriente são certamente manifestações que visam alterar os Sistemas Políticos e em determinados casos até os próprios Regimes dos Estados afectados e demonstram que o mundo islâmico, especialmente o mundo islâmico que faz fronteira com o sul da União Europeia, é uma zona turbulenta. Assistimos a manifestações na Tunísia, no Iémen e no Egipto e verificamos que até na própria Jordânia se adivinham mudanças no Sistema Político. Além destes acontecimentos recentes não nos podemos esquecer dos “velhos” focos de instabilidade que estão associados a esta parte do mundo e que ainda hoje demonstram ser inquietantes para a estabilidade do mundo ocidental e para a própria estabilidade do Sistema Internacional: a Turquia, que se encontra às nossas portas, depende das forças armadas para garantir a laicidade do seu Estado; Israel apenas sobrevive graças ao seu poderio militar; a Argélia transformou-se num estado militarizado; os Movimentos Islâmicos ganham força um pouco por todo o Médio Oriente e na Indonésia.
Face a estes cenários, estaremos perante o “Choque das Civilizações” proposto por Samuel Huntington? Ao longo da história sempre assistimos a conflitos que eram descritos como sendo conflitos entre diferentes culturas e religiões. Ainda hoje, quando estudamos a história das cruzadas ou a história dos descobrimentos não podemos deixar de associar os conceitos de “cultura”, “religião” e “civilização” aos conflitos e às guerras que se geraram. A ideia de que a maior parte dos conflitos pode estar de alguma forma associado a quezílias ente diversas culturas e entre diversas religiões está sempre presente, ainda que por vezes de uma forma inconsciente, nas avaliações que fazemos dos grandes conflitos internacionais. Desde a publicação do artigo de Samuel Huntington “The clash of civilizations?” na revista Foreign Affairs em 1993, e após a publicação do seu livro com o mesmo título, que o conceito de choque de civilizações se tornou mais abrangente enquanto conceito relevante para as relações internacionais. Este facto tornou-se mais evidente após os atentados de 11 de Setembro, que acabaram por ser apenas uma acção iniciadora para um conflito a uma escala quase global.
Os atentados de 11 de Setembro de 2001 em Nova York, os atentados de 11 de Março de 2004 em Madrid, os atentados de Julho de 2005 em Londres e muitos outros mais (Casablanca, Mubai, Bombaim, Beslan, etc.) demonstraram que existe uma forte capacidade de mobilização e planeamento por parte de terroristas contra alvos que representam a Civilização Ocidental. A motivação comum destes terroristas é uma determinada ideia de islamismo que eles possuem em que o Ocidente é o inimigo por excelência e tem que ser destruído. Estas operações terroristas só são possíveis porque existe uma forte organização e uma esplêndida capacidade logística por parte de grupos bem organizados que não se batem pela defesa de um território mas sim pela expansão de um ideal islâmico.
Esta capacidade dos extremistas islâmicos de actuarem além fronteiras e de demonstrarem ter uma vontade inabalável de impor a sua visão do mundo e da vida não pode ser menosprezada e é um factor importantíssimo na dinâmica muito própria que os sistemas políticos do Médio Oriente e Norte de África possuem.
Não nos podemos esquecer que o Regime Egípcio é (era?) um regime pro-ocidental, ou pelo menos um regime que não manifestou uma hostilidade visível perante o mundo ocidental e agora resta saber quem vai ocupar o poder e qual será a postura do Egipto perante o mundo ocidental. Desenganem-se aqueles quê vêm nesta revolução egípcia “um 25 de Abril árabe” (até porque o nosso 25 de Abril foi inicialmente um golpe de estado): a história tem-nos demonstrado que as revoluções nesta parte do mundo tendem a implantar regimes de inspiração islâmica e anti-ocidental. Resta esperar para ver, mas o futuro não augura nada de bom.

Mauro Martins