20/12/2010

Presidenciais: primeiro round um desastre


Começou a campanha presidencial com debates na TV, num formato ridículo 2 a 2, quando deveria ser todos os concorrentes e simular grandes questões do futuro e possíveis comportamentos de cada candidato.

Mas não, tem sido um passar de frivolidades que não interessa ao menino Jesus. Estou desapontado pelo modo como os candidatos que representariam o rompimento com o status quo reinante se têm comportado. Todos já sabem quem é Fernando Nobre, um homem dedicado à solidariedade, pelo que é desnecessário perder tempo a dizer quem mais viu o sofrimento, porque só por si, não pode constituir motivo para se eleger um PR.

Não consigo perceber como é que quem se candidata a PR, o mais alto cargo da Nação, um cargo político, possa fugir a 7 pés de se assumir como político. Todo o homem é um ser político. Vive na polis e interessa-se pela polis e pela sua sociedade. Tem de afirmar as suas diferenças para a política suja que hoje se faz, mas não negar o caráter político do cargo, nem de se assumir como político. Aliás, não se exerce atividade política apenas como deputado ou governante, como todos sabem (leiam Nelson Mandela – longo caminho para a liberdade e percebe-se bem isto). Até Defensor Moura o fez, quando o seu maior trunfo é a experiência política de lidar com o voto e a vida de milhares de cidadãos.

Qual é o alvo senão o consulado do atual PR? Logo, o que se deveria contestar é esse consulado e como é que ele contribuiu decisivamente para que Portugal tivesse chegado à situação em que chegou. Tivemos em Belém alguém que foi deixando o governo fazer asneiras atrás de asneiras, imolando o país, para agora vir dizer que tinha avisado. Não chega. Quem é avisado e conhecedor não pode ter medo, nem tão pouco estratégias de passagem incólume pelo furacão, à espera da reeleição. Muito menos ainda se perdoa a um especialista em finanças públicas.

Ora, os candidatos deveriam elencar todas as situações que Cavaco pactuou e dizer o que fariam para evitar este descalabro, e não insistir no currículo pessoal, que de todos é mais que conhecido. O país quer saber como sair da crise e com quem pode contar em Belém para travar os desvarios do governo.

O primeiro round foi, para mim, um desfile de vacuidades e até patetices que me desiludiu. Esperava muito mais de Fernando Nobre e até de Defensor Moura, os candidatos menos comprometidos com o que esta política fabricada nas catacumbas da capital do império.

Fernando Nobre, o único candidato da sociedade civil, que encheu de esperança a milhares de pessoas, tem mostrado fragilidades confrangedoras no ataque às verdadeiras questões que o motivaram a candidatar-se. Ele não pode ir para Belém resgatar populações em guerra, mas cuidar de todo um povo contra políticas suicidas que um governo desorientado, desesperado e sem credibilidade tem imposto sem que o atual PR faça seja o que for.

Portugal precisa de um contra-peso com coragem de assumir as suas responsabilidades. Não vai governar, é certo, mas não pode deixar cometer asneiras suicidas. A assessoria política de Nobre está a precisar de uma UTI (unidade de tratamento intensivo) para refazer o caminho certo.

Mário Russo



*novo acordo ortográfico