09/12/2010

Em PORTUGAL nem tudo é tão MAU!

Para acabar 2010, fomos brindados com mais um excelente debate neste nosso estimado espaço do Clube dos Pensadores. Joaquim Jorge proporcionou-nos a possibilidade de ouvir um dos mais conhecidos jornalistas Portugueses, pessoa de capacidades profissionais e intelectuais sobejamente exibidas. Gostei de estar na plateia, gostei de ouvir o convidado e os intervenientes da assistência.
Não sou especial apreciador da forma e conteúdo de algumas das ideias de Mário Crespo. Compreendo que por convenientes e compreensíveis interesses profissionais não se declare aberta e claramente a preferência ideológica (excepto a contestação), mas desagrada-me a superior e intelectualíssima afirmação: Não necessito, não concordo, não utilizo essas classificações. Como alguém disse, “são da direita”, talvez envergonhada, conveniente e pseudo contestatária.
Entre as minhas, reduzidíssimas, capacidades não encontro algumas das mais interessantes: hipocrisia, bajulação, lisonjeio, desonestidade, capricho, raiva, etc.
Tenho dificuldade em perceber, sem dúvidas, o sentido e intenção de algumas prosas, sobretudo se escritas por sobredotados que sabem tudo e sabem também tudo o que os outros devem saber e ser capazes de entender. Quem afirma:” Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência”, não pode virar a cara ou quase insultar quem o confronta com outros conhecimentos e convencimentos. Sei quem tem a culpa e que a “dificuldade fica com quem a tem”…
Permitam-me alguns comentários sobre as várias afirmações ouvidas
- Degradação do sistema educacional. Concordo com esta, mas não a afirmaria na altura em que o Público afirma, na 1ª página, que os alunos portugueses foram os que mais progrediram, 4 lugares, nos testes feitos no âmbito do PISA (Programme for International Student Assessment), OCDE.
- O que é que é horrível? O orçamento, o que se diz sobre o orçamento, o que se diz sobre o que se deve fazer com o orçamento, o que se diz sobre o que se deve mas não deve fazer com o orçamento, o que se diz sobre o que é necessário fazer com o orçamento, ou tudo em simultâneo? Outros vão fazer melhor brevemente!
- Sobre TGVs e outras obras e decisões que tais. Mais opiniões do que todas as ouvidas? Mais discussões do que as que foram travadas? E não se discute?! Já sei, “não ouvem”. A solução é que não devia ser esta mas sim aquela, qual afinal?
- O governo da Irlanda disse que vai fazer cortes de 6 mil milhões de euros no Orçamento em 2011. Seis não são oito, são seis. Não esqueçamos que: a) Os cortes no orçamento serão uma combinação de redução de gastos e aumento de impostos; b) O déficit do Orçamento da Irlanda deve atingir 32% do PIB até o fim de 2010 (tem mesmo que cortar muito!); c) Actualmente, metade da população economicamente activa da Irlanda, de 1,9 milhão de pessoas, não paga imposto; d) Não houve alteração sobre a idade mínima da reforma; e) Os apoios sociais às crianças desceram 10€ por mês; f) O orçamento foi aprovado com 82 votos a favor e 77 contra.
- Pessimismo não leva a lado nenhum, dizem várias vozes, concordo. Então porque se insiste com a voz de Medina Carreira? Haverá melhor optimista realista?
- Israel como exemplo das vantagens de governos sem maiorias!! Pois, todos os partidos sabem utilizar os interesses dos Americanos. Nós também saberíamos.
- O 1º Ministro é um “Sacana” e ponto. Então não dizem tanta coisa dele? Usando a tábua de Ernâni Lopes, haveria 6 ou 7 razões para o demitir. Serei um dos primeiros apoiantes desta opinião logo que os tribunais o decidam. Ah, pois é, os tribunais estão comprados, são forçados, são todos uns nabos que não conseguem provar nada. Pois, valem-nos os jornalistas de eleição que já decidiram.
- A mesma tábua de Ernâni Lopes aconselha FIRMEZA em vez de MOLEZA. Uma das afirmações que apenas traduzem o bom senso do autor e que devia ser o senso comum. Pois é, se 400 controladores espanhóis resolvem, sem qualquer pré aviso, completamente fora da lei, prejudicar arbitrariamente os 40 milhões e todos os outros, a firmeza do governo é criticada porque essa firmeza não, teria de ser outra firmeza. Ser contra, ser contra tem vantagens. Quem prefere o despedimento puro e simples de 17000 em vez da firmeza, ainda que militar, sobre meia dúzia dos mais responsáveis (claro que activistas, reivindicadores, lutadores de classe, tudo isso, mas fora da lei democrática). Perceber isto implicaria calcular o problema dos milhares de famílias que foram arrastadas para a situação de desemprego. Firmeza na liderança pode evitar esses sofrimentos e conduzir para a firmeza de acção, mas legal.
É por isto que não sou especial apreciador de Mário Crespo, e como ele dirá, será recíproco.

José Carvalho