O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce…O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo».
Não, não se trata de qualquer crónica publicada em algum jornal da actualidade a retratar o estado social, económico e político a que chegou o nosso país. A crónica é de há mais de cem anos e tem a assinatura de Eça de Queirós. Neste último século nada mudou na mentalidade das nossas elites. A choldra é a mesma, para pior, para mal dos nossos pecados. A corrupção aumentou impunemente, a honestidade dos políticos anda pelas ruas da amargura, a classe média definha a olhos vistos, abafado por taxas e impostos a esmo, o povo anda cada vez mais adormecido e imbecilizado, a juventude vegeta, perdida e morcona, entre a música pimba e as discotecas alienantes, mergulhada nos copos de cerveja e na volúpia momentânea de uma aventura «amorosa», sem sabor nem respeito. Os valores e os costumes estão de cabeça para baixo, de olhos trocados e vesgos, atarantando novos e velhos sem atinarem pelo rumo certo. E para cúmulo dos cúmulos, o próprio Estado deixou de ser uma pessoa de bem para se transformar num autêntico salteador cobarde aos bolsos dos cidadãos e o pior dos inimigos que o mesmo cidadão pode encontrar na vida.
É a triste sina dos Portugueses em continuar com este retrato de corpo inteiro a mascarar a sua vida e a torná-la um verdadeiro inferno. Até quando?
Francisco Azevedo Brandão
Não, não se trata de qualquer crónica publicada em algum jornal da actualidade a retratar o estado social, económico e político a que chegou o nosso país. A crónica é de há mais de cem anos e tem a assinatura de Eça de Queirós. Neste último século nada mudou na mentalidade das nossas elites. A choldra é a mesma, para pior, para mal dos nossos pecados. A corrupção aumentou impunemente, a honestidade dos políticos anda pelas ruas da amargura, a classe média definha a olhos vistos, abafado por taxas e impostos a esmo, o povo anda cada vez mais adormecido e imbecilizado, a juventude vegeta, perdida e morcona, entre a música pimba e as discotecas alienantes, mergulhada nos copos de cerveja e na volúpia momentânea de uma aventura «amorosa», sem sabor nem respeito. Os valores e os costumes estão de cabeça para baixo, de olhos trocados e vesgos, atarantando novos e velhos sem atinarem pelo rumo certo. E para cúmulo dos cúmulos, o próprio Estado deixou de ser uma pessoa de bem para se transformar num autêntico salteador cobarde aos bolsos dos cidadãos e o pior dos inimigos que o mesmo cidadão pode encontrar na vida.
É a triste sina dos Portugueses em continuar com este retrato de corpo inteiro a mascarar a sua vida e a torná-la um verdadeiro inferno. Até quando?
Francisco Azevedo Brandão