15/10/2010

Injustiça social


Na comunicação social e em mails enviados por várias pessoas amigas vi a lista dos cortes a fazer nos ordenados, se a Assembleia da República aprovar o que o governo quer que aconteça em 2011. É apregoada a justiça social com a detalhada indicação da percentagem que vai ser cortada nos diferentes escalões de ordenados, separados por intervalos de 50 €, situando-se a percentagem a cortar entre 3,5 % para ordenados de 1550 € até 10 % para os ordenados de 4.200 € ou mais. Parece muito certo e verdadeira acção de esquerda, não parece? Parece, mas não é. É uma verdadeira acção de extrema direita, com uma descarada protecção aos que mais ganham, enquanto sobrecarregam os ordenados mais baixos. Dos ordenados de 4.200 € euros para cima - e trabalham para o estado muitas pessoas que ganham mais de 4.200 € - já não se aplica a boa norma de justiça social e pagam todas o mesmo.
Dizia uma pessoa que ganha 4.200 € que consideraria muito justo pagar uma percentagem superior à que pagam os que ganham 4.150 € se os que ganham 4.250 € pagassem uma percentagem superior à que ela paga e a progressão continuasse a subir até ao mais alto ordenado de quem trabalha para o estado. Assim, sente-se roubada, pois quem ganha ordenados mais altos suporta melhor os cortes mais altos. O corte de 10% a quem ganha 4.200 custa menos a suportar e obriga a menos sacrifícios do que o corte de 4,1% a quem ganha 2.100. Imagine-se o "conforto" de que gozam os que têm ordenados bem superiores a 4.200 €!
Se se quer como corte máximo 10%, esse teria de ser aplicado ao mais alto ordenado, sendo inferiores a esse valor as percentagens aplicadas aos de menores proventos. (E convém considerar "ordenado" tudo o que o trabalhador leva para casa, em dinheiro e nas diversas mordomias). Se o objectivo é que os cortes somem um determinado número de euros, o que há a fazer é uma nova escala que vá sempre em subida até ao mais alto ordenado. Isso seria justiça social. Como está proposto, é uma descarada injustiça social, típica da extrema direita. Os que não sabem o que isso é continuam a chamar "de esquerda" ao governo que temos!


Miguel Mota