26/08/2010

Encerramento de escolas: uma outra visão


Muito se tem falado sobre o encerramento de escolas com poucos alunos e quase sempre de forma passional ou como arma de arremesso político. Parece-me que a discussão não tem sido profunda e menos ainda, serena. Com efeito, pelo menos em 3 vertentes se deve colocar o problema:

(i) Sob o ponto de vista pedagógico é evidente que os alunos de uma escola pequena, com poucos alunos (menos de 20) e poucos professores (maioritariamente um), sem recursos, estão prejudicados em relação aos seus colegas que estão numa escola com recursos laboratoriais, biblioteca, ginásio, bar, cantina, computadores, Internet e diversos professores conforme a especialidade.

(ii) Sob o ponto de vista económico, a racionalização dos recursos disponíveis torna os meios menos dispendiosos, e por isso, maior é a poupança e eficiência, como pretende o governo.

(iii) A terceira dimensão do problema é a da coesão territorial e do seu ordenamento. Como é que pretendemos ter o território daqui a uns anos se fecharmos escolas, maternidades, centros de saúde, correios, farmácias? Obviamente que será o deserto.

Pode ser mais económico agora encerrar. Certamente que o é, mas o país poderá perder mais no futuro se optarmos por utilizar um único tipo de justificativa, cego e contabilístico, cujo parâmetro definidor é o nº de alunos (menos de 20 fecha a escola).

Provavelmente poderemos ter alguns casos extremos de encarar como melhor o encerramento de algumas das escolas, mas só deveria ser em casos extremos e como excepção e não como regra. A regra deveria ser a manutenção da sua maioria para que o interior não seja “degolado” já. Em vez de fechar, reabilitar e dotar essas escolas da qualidade que se deseja, fazendo o trajecto contrário, ou seja, distribuir melhor os alunos e professores, bem como recursos (laboratórios, bibliotecas, cantinas, etc) de grandes agrupamentos para essas escolas com critérios de proximidade, nivelando mais as escolas.

Uma escola demasiado grande pode ser quase ingovernável, pese embora ser mais barata por aluno, como argumenta o governo.

A coesão nacional e o ordenamento do território exigem maior e melhores estratégias e, sobretudo, coragem política para romper com o óbvio e ululante das políticas tecnocratas contabilísticas.

Medidas arrojadas potenciam a economia porque há muito a reabilitar e a construir para cumprir o desiderato de qualidade do ensino que se pretende, potenciando o interior, sem matar esse interior que caminha inexoravelmente para a ruína com estas políticas de fechamento, com um argumento verdadeiro, mas outro falso, logo, deveria concluir-se ser falsa a solução adoptada.

Mário Russo