15/02/2010

Financiamento externo


Miguel Mota


O governo e particularmente o Ministro das Finanças têm referido repetidas vezes que tudo o que der ao estrangeiro sinais de debilidade financeira prejudica enormemente o país porque lhe cobram mais elevados juros - por o empréstimo ter mais risco - quando se pretendem financiar no estrangeiro. Sabe-se que a dívida já é grande e, consequentemente, os portugueses têm de trabalhar muito para pagar juros altos. Alegou-se que foi para o país não ficar ainda mais mal visto e lhe agravarem os juros a pagar por empréstimos que os portugueses viram uma quantia astronómica do seu dinheiro, mais de 4 mil milhões de euros (mais de 2% do PIB!) ser entregue um banco "nacionalizado" (em verdadeiro socialismo ao contrário1) que agora dizem que vai ser posto à venda, sabe-se lá por que miserável preço.
Em Portugal há bastante gente com dinheiro para investir. Por esse motivo os bancos estão constantemente a anunciar bons investimentos, embora muitas vezes os resultados do pobre investidor nem sempre concretizem as belas promessas. Logicamente, a pergunta que qualquer cidadão pode fazer é muito simples: porque é que o governo vai pedir dinheiro - caro - ao estrangeiro, em vez de se financiar em Portugal? Qual é a razão do estado pagar tão miseráveis juros pelos Certificados de Aforro (o que já me levou a chamar-lhes certificados de desaforo2), certamente muito menos do que paga ao estrangeiro, pois nenhum financeiro digno desse nome emprestaria dinheiro tão mal remunerado. Essa política financeira já levou muita gente a desfazer-se de tão pobre papel e os jornais anunciaram que, nos últimos tempos foram mais os que saíram do que os novos que entraram, o que mostra o erro de tal política. Seria bom que o governo explicasse porque é que se vai financiar ao estrangeiro, em vez de o fazer em Portugal. Em vez desses avultados juros serem entregues ao estrangeiro, não poderiam ficar em Portugal, o que algo ajudaria a nossa economia?



engenheiro agrónomo , professor catedrático jubilado.