Joaquim Jorge
Marcelo Rebelo de Sousa vai abandonar o comentário político na RTP . A estação pública vai avançar com um novo programa de comentário político mais plural após Fevereiro. A saída de António Vitorino do programa Notas Soltas precipitou o fim d`As Escolhas de Marcelo .
É fundamental mudar-se de comentadores , as pessoas cansam-se e alguns já passaram o prazo de validade. mas se for para mudar as coisas para que tudo fique na mesma , acho má ideia. As pessoas querem outras caras , com outras ideias e que não falem de tudo e mais alguma coisa.
O comentário político não pode ser só representado pelos partidos políticos e politólogos ( que estão muito na moda). Há outras pessoas com valor e qualidade precisam é de oportunidades e que os promovam . Quem representa a sociedade civil ? Quem representa mais 40% de pessoas que não votam ? Quem representa os votos em branco ? Quem representa os votos nulos? Os pequenos partidos ?
Apesar de os partidos serem o expoente máximo da nossa democracia infelizmente representam-se a si próprios e os seus interesses e por vezes são um problema para a resolução de muitos problemas. Em vez de se preocuparem com o todo ( o país, os cidadãos) preocupam-se com as partes ( os seus interesses partidários). No fundo são um problema dentro dos problemas. É preciso abrir há pluralidade e há diferença.
Pacheco Pereira , Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino, Miguel Sousa Tavares , entre outros ,estão na televisão desde que me conheço...
O comentário político não pode ser sinónimo de o utilizar para benefício próprio ou de outrem, próximo de quem comenta,gozam de um estatuto que é abstruso e obsceno. Qual o critério da escolha dos comentadores? Porque são sempre os mesmos? Existe em Portugal a naturalização política do sempre os mesmos . Não há lugar a vozes independentes , há um défice da virtude social , um mimetismo informativo ; a agenda dos alinhamentos no fundo a institucionalização da informação.
A presença de outras vozes independentes no período de análise é residual . O chamado não-dito é dito mas não divulgado.
Ser comentador neste país é só para alguns . Por convite expresso , pertencendo ao inner circle lisboeta e por critérios muito duvidosos em que impera o amiguismo.
Não questionando a qualidade intelectual de Marcelo Rebelo de Sousa , Pacheco Pereira , Miguel Sousa Tavares ( o que gosto mais), sendo inteligentes e cultos , mas como qualquer pessoa, por muito boa que seja , é humanamente impossível falar de tudo e mais alguma coisa. Falam de desporto , futebol , jogos olímpicos , política , economia , etc.
Alguns utilizam o tempo de antena , pago por todos nós , para se auto-promover e traçar cenários favoráveis à sua pessoa quer dentro do seu partido quer fora.O seu ego é assassino da razão .
Os disparates a despropósito são imensos. Tanto esticam a corda da sua pose que chegará um dia que matam a galinha dos ovos de ouro.A democracia não garante governos justos mas também não garante comentadores justos.
Está na moda limitar os mandatos dos políticos , dos presidentes dos sindicatos , dos presidentes das associações de pais , etc. E porque não os dos comentadores políticos? São sempre os mesmos deambulando pela rádio, televisão e jornais.No lugar que estão deveriam ter mais cuidado com o que dizem e pretendem influenciar.
Podem dizer-me são eles os escolhidos pelas direcções de informação e que arrastam audiências. Tudo bem mas eu não tenho tanta certeza desse facto. Penso assim , e muitas pessoas com quem falo também pensam como eu. Estão cansadas , pura e simplesmente , não os vêem na televisão , não os ouvem na rádio e não os lêem nos jornais. Está na hora de aparecerem outros comentadores, parece que está a chegar...
Deveria haver um programa de televisão para comentar… os comentadores políticos. Fica a ideia e até sugiro um nome para o programa: “Comentar o Comentário”. O compte rendu é para todos.