Uns tantos, poucos, cada vez menos, portugueses, ainda que influentes, pois são deputados na AR, continuam a achar que continuamos a viver em tempos de Vacas Gordas e que somos um país rico.
Os restantes portugueses sabem que não é assim, que, pelo contrário, estamos a entrar no tempo das Vacas Magras…e que somos na verdade – pobres.
Daí que já em Fevereiro de 2009 os portugueses tenham solicitado menos 13,1% de empréstimos que no mesmo mês do ano anterior e que em Maio as famílias portuguesas devessem à Banca 3,45 mil milhões de euros, ainda assim mais 2,57% que em igual período de 2008.
Já os empresários portugueses vivem momentos de forte aperto, como refere a comunicação social, cada vez mais em cada dia que passa. Desta forma, o crédito mal parado das empresas subia, já em Maio de 2009, com um aumento de 98% e equivalendo a 4 mil milhões de euros. No entanto, a verdade é que a Banca continua a beneficiar as Famílias e a apertar a torneira às empresas. Tal é visível no facto dos aumentos dos empréstimos ser de quase 134 mil milhões de euros para as famílias e ser somente de 118 mil milhões de euros para as empresas em Maio de 2009.
Tal, como é evidente, não facilita em nada a sustentabilidade da economia nacional, dada a evolução do Desemprego, a redução do Consumo Interno e das Exportações portuguesas e a evolução negativa do PIB em Portugal no 3º trimestre de 2009, ainda que seja certo que a redução de -2,4% do PIB português seja menor que a redução da média do PIB da zona euro e do da União Europeia, -4,1% e -4,3% respectivamente. Não chegámos ainda à Islândia, nem à Grécia, mas com as Receitas do Turismo a caírem entre os 20% e os 30% neste ano, (o que equivalerá a uma redução de cerca de 1,5 % no PIB), segundo a Confederação do Turismo Português, e a produção automóvel a cair quase 30% segundo a ACAP, é de temer de facto o pior para 2010, se continuarmos este ritmo de rejeição do papel do empresariado em Portugal.
Já não se trata de saber que o novo crédito às empresas é o 3º mais caro da União Europeia – pior que em Portugal somente o Chipre e a Eslovénia! – trata-se de saber a contenção, sem duvida exagerada, com que a Banca em Portugal aceita apoiar as empresas, em especial as Micro e as PME, por mais instrumentos de propaganda partidária que tenham e continuem a ser… É certo que os empréstimos aumentaram 2,8% em Outubro de 2009, face ao ano anterior. No entanto, este nº é por si prova da elevada contenção da banca, pois, dado o momento de crise vivido, seria de esperar que ultrapassasse o acréscimo de 12,1% do ano passado face ao anterior, pois é neste ano, de crise de receitas, que deveríamos assistir a um acréscimo de pedidos de empréstimo empresariais.
Perante esta crise a verdade é que as medidas dos parlamentares da Oposição, centrando o debate num tema certamente interessante para economistas académicos e desconhecedores das vivencias empresariais – para além das CIMPOR e das EDP… - o da redução ou não das receitas e das despesas do Estado, (pague-se mais ou pague-se menos impostos enfim, tema filtro dos académicos “à Keynes” e “à Friedman”), em pouco auxiliam à superação da Crise Interna.
Vejamos – na Construção Civil o que as empresas solicitam é que a Banca abra os cordões à bolsa para que as empresas vejam o como superar a situação de existirem crescentemente mais casas à venda que as que o mercado solicita, dado o desemprego vigente.
Esta situação generaliza-se a outros sectores claro.
Assim, no sector da Qualificação das Pessoas, onde eu lido e onde a Região de Lisboa e Vale do Tejo está fortemente afectada, o desemprego, que penaliza hoje fortemente as famílias limita a participação, individual, das mesmas na Qualificação Escolar e Profissional não financiada pelo Estado, a não ser que a banca entenda o seu papel no apoio às Pessoas e às Organizações também na qualificação escolar e profissional.
Como a redução dos empréstimos se tem relevado significativa em especial nos novos empréstimos até 1 milhão de euros, iremos assistir a uma redução significativa da empregabilidade nas micro e pme’s, isto é, em 99,65 do tecido empresarial e em 75,2% da empregabilidade, o que implicará mais e mais crise, assim como da capacidade de inovação das empresas por incapacidade no Investimento.
A não ser que a Banca mude de mentalidade.
E é para ela em especial que me dirijo.
Porque entendo que, na verdade, em Portugal, a crise interna é ainda desconhecida.
Mas vai acontecer, acoplada a esta crise internacional e a final a grande perdedora será a Banca.
A não ser que se trave desde já este potencial irreversível caminho.
Ora tal só será possível se a banca entender que é seu dever aumentar a sua capacidade de gestão do Risco.
O conservadorismo bancário português foi particularmente útil para a superação da crise internacional, pois o vírus da crise internacional existia em especial por razão bancária/financeira.
Parabéns à Banca portuguesa.
No entanto, se tal escamoteou a crise interna, porque amorteceu a internacional, será esse mesmo conservadorismo que irá levar, a manter-se, o país à sua real crise interna.
E, não duvidem, não será da União Europeia que virá o essencial da solução, se a houver.
O essencial da solução terá de vir, como é obrigatório, da forma como lidarmos com a travagem desta crise interna ainda larvar mas crescente.
E, para tal urge outra visão na Banca portuguesa e outro empenhamento por entre a classe política portuguesa.
Ambas necessitam de aprender.
A Banca que não é nada sem o restante tecido empresarial e a classe politica que Portugal é mesmo, ainda, um país pobre.
Felizes Festas para Todas e Todos e um Desejo Especial – o de que a Banca se descubra enquanto entidade capaz de assumir, também, o Risco.
Joffre Justino