Paulo Portas foi o convidado de Joaquim Jorge no Clube dos Pensadores para encerrar o longo ciclo de excelentes debates, dissertando sobre o papel do CDS/PP na actual legislatura. O anfitrião fez a apresentação da praxe e realçou a vitória deste nas últimas eleições, a par de Sócrates, os únicos vencedores. Referiu que de partido do “táxi” já está em partido do “bus” e poderá vir a ser o partido do autocarro de dois andares, dadas as contradições e a autofagia em que se encontra o PSD.
Paulo Portas começou por salientar o papel da oposição em democracia, lembrando quatro aspectos essenciais: (i) opor, ou seja, combater com qualidade o governo, pois este será tanto melhor quanto melhor for a oposição; (ii) fiscalizar, porque sem escrutínio não há oposição; (iii) contribuir, porque não é apenas dizer não às propostas que não concorda, mas dizer como faria e (iv) alternativa, porque o país precisa de alternativa e não de alternância, que é o que tradicionalmente acontece em Portugal, em contra ciclo com os mais avançados países da Europa, que têm alternativas válidas e democráticas protagonizadas por partidos de esquerda e de direita bem distintos e democráticos.
Vincou que é o mesmo antes e depois das eleições, igualmente em contra corrente com o governo Sócrates, que promete uma coisa e faz outra. Para que não restassem dúvidas estabeleceu um caderno de encargos com o eleitorado para não se desviar dele.
Obviamente que sendo o CDS oposição não pode demonstrar como seria a sua praxis em governo, pois os restantes partidos ao apresentarem-se em eleições apresentam os seus programas, cheios de virtualidades, com promessas e mais promessas, provavelmente mentiras, dada a situação conjuntural, que poderíamos também chamar de caderno de encargos com o eleitorado.
Paulo Portas salientou dois aspectos comportamentais importantes, que são o carácter e o trabalho, lemas que segue com rigor, apreendidos de berço. Acredita que quem trabalha merece ser compensado e chegar o mais alto que o seu esforço conseguir. Que o Estado deve apoiar esse esforço e não atrapalhar. O Estado deve dar sinais claros que é favorável ao trabalho e não à malandrice, que é o que transparece com os seus programas de atribuição de rendimentos de inserção, que não são mais que desincentivos ao trabalho e à responsabilidade.
Portas diz não compreender como é que alguém que é sustentado pelo Estado, não tenha nenhuma obrigação cívica. Arrasou a atitude laxista do governo, com reflexos na educação e na justiça. De facto, salienta que o paradigma destes ideólogos socialistas é o do delinquente coitadinho, a sociedade é que é a culpada e a vítima que se ”dane”. O mesmo se passa na educação, que, ao contrário dos sistemas que deram certo há séculos: “quem manda em casa são os pais, e na escola o professor”, o aluno é o centro da aprendizagem, não pode ser traumatizado, nem lhe ser exigido nada. O professor é obrigado a “engolir” tudo e é o responsável pelo insucesso escolar. Portas lembrou que o Reino Unido recuou neste paradigma e responsabiliza os pais pelos incumprimentos grotescos dos filhos, não admitindo faltas de educação, nem violência dos mesmos nas escolas, e tudo com consequências.
Sobre a avaliação dos professores Paulo Portas foi contundente, desmontando os argumentos incompreensíveis do governo, que teima em continuar com um processo inconsequente, nefasto e mal concebido (eu diria concebido por mentes estranhas, burocráticas e perversas).
Também foi salientado por Portas que o CDS foi o responsável para que o PS cumprisse o seu programa de não aumento dos impostos, ao agendar a discussão do código contributivo, aprovado em cima do joelho pelo governo, que iria aumentar impostos em mais de 2 mil milhões de euros, verba avançada pelo governo como perda fiscal, ao arrepio do que antes dizia. Afinal foi só a AR reprovar este confisco fiscal para os “mentirosos” virem a terreiro dizer que o Estado (afinal) deixará de ter aquela arrecadação fiscal. É o paradigma da mentira, tão corriqueira neste governo.
Joaquim Jorge instou Portas se este assumia uma eventual liderança de governo, ao que respondeu que trabalha para isso e que não abdicaria dos seus princípios, mesmo que isso pudesse por em causa a continuidade do governo, porém sempre com responsabilidade e se se justificasse.
Enfim, uma bela noite com mais de 250 pessoas a participar, com muitas importantes figuras políticas na assistência, o que já começa a ser uma marca deste Clube dos Pensadores, porque o que se faz é com qualidade e com marca. Joaquim Jorge agradeceu a presença de todos e encerrou esta tertúlia, que continuou em amena cavaqueira no bar do hotel à volta de uma bebida para aquecer a noite fria.
Mário Russo