23/12/2009

Para que serve a liberdade, quando não há nada nem ninguém?


Na ilha deserta, podes fazer a tua casa na praia, com a madeira de árvores centenárias e cantar bem alto, às horas que te apetecer. Podes andar nu. Não PDM, áreas protegidas, vizinhos, condomínios, contribuição autárquica. A única lei que te obriga é a da sobrevivência, mas se a ilha tiver fruta e galinholas, o mar livre de traineiras, assegurar-te-à uma rica e saudável dieta. Não casarás e, por isso não há contratos pré-nupciais a celebrar, não tens para vender nem para comprar, o que te dispensa de todos os contratos de compra e venda. És rico, tens uma ilha inteira, mas não tens ninguém a quem deixar a tua riqueza: não precisas de fazer testamento. Com quem vais discutir os teus interesses? Com quem vais fazer acordos? Quem te diz o que podes ou não podes fazer? Um dia, porém, quando começavas a estar farto da tua liberdade, outro náufrago chega à tua ilha. Já não é tua. Tens duas hipóteses: ou te pões de acordo com ele ou o matas, se fores capaz. Mas, se o matares, ficas outra vez sozinho. O ideal é estabelecer regras que permitam a convivência pacífica e, sobretudo, permitam que cada um aproveite as capacidades e as aptidões do outro porque, como sabes, não há duas pessoas iguais. E, então cada decisão tua que implique, de alguma, o outro deve conformar-se com as regras da vossa convivência. é para isso que, um belo dia, chega à ilha um terceiro habitante: o EMPRESÁRIO. Em breve, virão as empresas, os lucros, as mulheres, os barcos e os aviões, e, tu, vendo vendo os teus netos correrem na "tua" praia, continuarás a perguntar-te sem encontrar resposta, PARA QUE SERVE A LIBERDADE, QUANDO NÃO HÁ NADA NEM NINGUÉM?

José Vinha